31 de dezembro de 2011

Sobre o novo ano

Faltam alguns minutos para a virada do ano e por algum motivo eu sinto que tenho que dizer algumas coisas. Não me pergunte o por quê, afinal eu nem mesmo comemoro o maldito Ano Novo. É como se eu tivesse de dizer minhas últimas palavras. Um pouco macabro isso, mas tudo bem.

O que eu preciso fazer ano que vem, é o que eu preciso fazer todos os anos. Hoje e sempre. É o que todos nós precisamos fazer. Descomplicar a vida.  Sim, apenas e simplesmente isso. Quero uma vida descomplicada, em que o meu sim signifique sim e o meu não, não. E que eu possa me entender um pouco mais. Só isso.

24 de dezembro de 2011

Sobre um espelho d'água e uma garota feia

Era uma vez, há não muito tempo atrás, um espelho d'água parado no tempo. Solitário em sua floresta, passava os dias ouvindo o canto encantado do vento, que agradecia a atenção acariciando ternamente a face do espelho.

O espelho era diferente e especial dentre os outros de onde vivia. Ele possuía uma capacidade única. A capacidade de revelar mais do que aquilo que era visível aos olhos; exibindo a pessoa secreta do coração de quem se atravesse a encará-lo. O ingênuo espelho nunca entendeu o por quê, mas isso afastava as pessoas. Quem não tem medo de descobrir aquilo que realmente é? Quem tem coragem para se olhar no espelho da verdade? A sinceridade que lhe foi dada como dom, acabara se tornando uma maldição.

Era, numa mesma vez, uma garota feia. Uma garota a quem a vida, de sobrenome cruel e injusta, havia ao mesmo tempo que abençoado com uma bela personalidade, amaldiçoado com uma aparência feia. Ela era , apesar de tudo, amada por sua família, os únicos que por conhecê-la de verdade eram capazes de ignorar aquilo que aparentava ser. E era na sua família que ela se escondia de um mundo amargo e vaidoso. Um dia porém, ela seria obrigada a sair de seu esconderijo.

Numa tarde ensolarada esse dia chegou. Todas as pessoas do mundo haviam sido convocadas a sair de suas casas e contemplar o Sol. Todas as pessoas, inclusive uma garota feia. 

Via-se a preocupação estampada nas faces dos familiares da garota feia. Ela, no entanto, fingia ter uma força que  nunca teria. Sua fortaleza se manteve enquanto as primeiras pessoas riam-se dela, mas pouco a pouco, as risadas e deboches começaram a atingir sua coragem como espinhos na carne. Por mais que tentasse ignorar, tudo o que conseguia era se magoar. O sangue que deveria correr de suas feridas, desciam através de lágrimas.

Correr. Fugir.Jamais faria.

Faria?

Fez.

Correu como se pudesse estar deixando a dor para trás. Fugiu do que nunca seria e não parou. Não parou até deixar de ouvi-los gargalhar. Correu mais do que precisava, mais do que devia. Seus pés tocaram caminhos que não conhecia, mas não parou. Continuou correndo até parar. Parar no meio de uma floresta. Parar em frente a um espelho d'água. Um espelho d'água parado no tempo.


O espelho d'água a viu chegar; e o coração que não tinha bateu mais forte. Aquela era a garota mais bonita que já tinha visto. Ela era o ser mais belo que já havia existido.  Ele queria que a garota se aproximasse, precisava apreciar sua beleza mais de perto. Pela primeira vez, o espelho não via o seu dom como uma praga.

O coração que a garota levava nas mãos se acalmou. Ela respirou fundo e ainda receosa começou a se aproximar do espelho d'água. Não sabia o que encontraria ao encarar seu reflexo, mas o vento parecia conspirar para que o fizesse. Já na margem, ela se ajoelhou, e então se viu refletida no espelho d'água.

A garota feia não se reconheceu naquela garota linda mostrada pelo espelho d'água. Precisou de uma comprovação do vento e da floresta para acreditar, e ainda assim desconfiou. Esperou que a imagem mostrasse aquilo que ela esperava ver, mas isso não aconteceu.  

Quando compreendeu a verdade, sorriu. O sorriso deixou a garota linda ainda mais radiante e a garota feia mais fascinada. Ela, que nunca havia sido vaidosa, começava a ser. Ah! Como queria que aqueles malditos que riram dela a vissem naquele momento. Como queria se parecer com o reflexo que o espelho mostrava.
A garota feia deixou que sua mágoa se transformasse em raiva, e que sua dor ardesse num desejo de vingança. As pessoas precisavam vê-la bela. Ela precisava que as pessoas se arrependessem amargamente de terem rido dela. De sua feiúra.

Enquanto a garota feia se deixava levar pela sua recém adquirida vaidade e  desejos de vingança o espelho d'água via o reflexo dela se transformar acima dele. Lentamente o processo se revertia. E uma garota feia de interior gracioso, passava a ser feia. Feia como nunca havia sido antes.

O espelho começou a ficar desesperado. Se ele pudesse, gritaria pra ela naquele momento. “Olhe no que está se transformando!” Ele gritaria. Mas não podia. Estava incapacitado. A única coisa que podia fazer era assistir. 

Em um tímido momento, a garota interrompeu seus delírios de grandeza e voltou seu olhar para seu reflexo. Quase morreu ao perceber que ele estava mudando. Que seu maior medo estava se concretizando. Não! Ela não podia ser daquele jeito. Ela era linda. A mais bela de todas. As pessoas precisavam ver! “Não! Maldito espelho! Devolva minha beleza!”

Desolado, o espelho tentava lhe explicar que não era culpa dele. Que seu reflexo mudou porque ela mudou. Mas a garota feia não ouvia, não percebia. Entre sua raiva e seu desespero, finalmente havia lugar para a loucura. E num acesso desta, a garota se jogou contra o espelho, como se assim pudesse obrigá-lo a devolver o que ela pensava que ele havia lhe tirado.

O espelho, percebendo que não havia outra solução, enlaçou em suas águas a garota feia. Ela lutou e esperneou pra voltar a superfície. Mas de que adiantaria? Agora que a vaidade lhe consumia, não podia mais viver feia. E desistindo de lutar, deixou que o espelho a conduzisse até o interior de suas águas, onde a lembrança da garota mais bonita que já havia existido sempre existiria.

Essa é a história de um espelho d’água e de uma garota feia. De uma garota feia que foi afogada pela vaidade.

Sobre um espelho d'água e uma garota feia (parte 1)

Era uma vez, há não muito tempo atrás, um espelho d'água parado no tempo. Solitário em sua floresta, passava os dias ouvindo o canto encantado do vento, que agradecia a atenção acariciando ternamente a face do espelho.

O espelho era diferente e especial dentre os outros de onde vivia. Ele possuía uma capacidade única. A capacidade de revelar mais do que aquilo que era visível aos olhos; exibindo a pessoa secreta do coração de quem se atravesse a encará-lo. O ingênuo espelho nunca entendeu o por quê, mas isso afastava as pessoas. Quem não tem medo de descobrir aquilo que realmente é? Quem tem coragem para se olhar no espelho da verdade? A sinceridade que lhe foi dada como dom, acabara se tornando uma maldição.

Era, numa mesma vez, uma garota feia. Uma garota a quem a vida, de sobrenome cruel e injusta, havia ao mesmo tempo que abençoado com uma bela personalidade, amaldiçoado com uma aparência feia. Ela era , apesar de tudo, amada por sua família, os únicos que por conhecê-la de verdade eram capazes de ignorar aquilo que aparentava ser. E era na sua família que ela se escondia de um mundo amargo e vaidoso. Um dia porém, ela seria obrigada a sair de seu esconderijo.

Numa tarde ensolarada esse dia chegou. Todas as pessoas do mundo haviam sido convocadas a sair de suas casas e contemplar o Sol. Todas as pessoas, inclusive uma garota feia. 

Via-se a preocupação estampada nas faces dos familiares da garota feia. Ela, no entanto, fingia ter uma força que  nunca teria. Sua fortaleza se manteve enquanto as primeiras pessoas riam-se dela, mas pouco a pouco, as risadas e deboches começaram a atingir sua coragem como espinhos na carne. Por mais que tentasse ignorar, tudo o que conseguia era se magoar. O sangue que deveria correr de suas feridas, desciam através de lágrimas.

Correr. Fugir.Jamais faria.

Faria?

Fez.

Correu como se pudesse estar deixando a dor para trás. Fugiu do que nunca seria e não parou. Não parou até deixar de ouvi-los gargalhar. Correu mais do que precisava, mais do que devia. Seus pés tocaram caminhos que não conhecia, mas não parou. Continuou correndo até parar. Parar no meio de uma floresta. Parar em frente a um espelho d'água. Um espelho d'água parado no tempo.

17 de dezembro de 2011

Sobre humildes palavras

Hoje eu só quero escrever, descarregar tudo o que eu sinto em minhas palavras. Hoje eu poderia escrever até o amanhecer, se me permitissem. Se me permitissem escreveria qualquer coisa. Escrevia palavras soltas, escreveria um texto, ou dez, terminaria meu livro, começaria outro. Ah... Se me permitissem!

Vomitaria meus sentimentos em formas de palavras.  Porque é isso o que eu faço, é isso o que eu sempre fiz. Escrever é o meu refugio. É pra onde eu fujo quando o mundo parece estar desmoronando. Se eu pudesse, dormiria em meu travesseiro de palavras todos os dias. E eu me sentiria bem novamente. Encostaria minha cabeça no ombro da escrita e descansaria.

Imagino que as lágrimas que não derramei são palavras que nunca escrevi, então eu passo a escrevê-las. Se você lê-las com o coração, e não só com a mente, poderá me ouvir soluçar. Lágrimas não fazem ninguém entender como eu me sinto. Mas palavras? As palavras podem ser tão poderosas a ponto de carregarem consigo os sentimentos mais puros e injetarem nas veias mais sentimentais. Fazendo você sentir, fazendo você ouvir, fazendo você ver coisas que de outro modo não seria possível.

Ora queridos, é por isso que o mundo das palavras é tão incrível e assustador, porque pode se transformar no que você quiser. É por isso que eu não quero parar de escrever.  Não quero, não posso. Escrevendo eu finjo que sou o que eu queria ser, a escrita me torna o que eu quero ser. Ela me deixa respirar tranquila e me dá esperança. A esperança que todos procuram, grande parte, eu encontro aqui. Nessas humildes palavras que carregam mais de mim, do que eu mesma.

12 de dezembro de 2011

Sobre uma Tempestade

Há uma garota parada no meio da rua. Numa rua deserta onde o ar foi substituído pelo silêncio. Ela está olhando para cima, está olhando para um céu cinza e cansado, onde está assentada uma tempestade que se confunde com a cor dos seus olhos. Castanhos.

Aquela tempestade já dura algum tempo, e parece não querer partir tão cedo. A menina sorri tristemente e sente falta do toque caloroso do Sol em sua pele. É uma manhã fria e solitária como a de ontem. Ela volta a caminhar, enquanto o vento parece tentar impedí-la de seguir em frente. A garota quer gritar com ele. Porque ele quer fazê-la desistir?

Ela luta e briga com o vento até cair de joelhos. Ela se deita no chão, enquanto ele acaricia seus cabelos num vão pedido de desculpas. Ele sussurra. Está dizendo que se levante, quer que ela veja algo. Está dizendo que ainda existem coisas pelas quais se vale a pena lutar, mas é justamente isso que ela está cansa de fazer.
Seus olhos estão se fechando, ela suspira longamente, como se estivesse expirando toda a vida que lhe resta. E então, está sendo dominada pela escuridão. Uma vez para sempre.

Há uma garota deitada no meio da rua. Numa rua sem luz e vazia. Ela está indo embora, deixando de existir para ser esquecida e ficar perdida eternamente no labirinto do tempo. Os únicos presentes em sua partida são o vento e o céu, que em sua despedida deixa escapar algumas lágrimas salgadas. Tão jovem.

“Então me abraça forte...” Há mais alguém chegando. “Me diz mais uma vez que já estamos...” Tímido, ele toca carinhosamente o seu rosto. “Distantes.” Ela não vai mais embora. O sol veio visitá-la. E a fez esquecer... “De tudo.”

Numa tempestade, um único raio de Sol pode dar a esperança necessária para continuarmos a seguir em frente.

9 de dezembro de 2011

Sobre o acaso, o destino. Sobre eu e você.

O dia em que nos conhecemos se perde em uma linha turva do tempo. Lembro-me bem como, mas não quando. E talvez por isso, às vezes, me pego acreditando que te conheço há mais tempo do que a verdade implica.

Você acredita em destino? Eu não. Eu acredito que escrevemos as nossas próprias vidas, com uns empurrõezinhos do acaso. Foi ele que nos trouxe até aqui? Penso que ele pode ter nos dado uma ajuda no começo, mas o resto? O resto foi escrito por nós.

Ainda estará na minha vida amanhã? Ficará na minha vida para sempre? Ou sendo mais razoável, se o para sempre lhe parecer muito utópico: Ficará na minha vida por muito tempo? Eu não sei. Eu realmente não sei. Mas tudo bem. Essa é a graça do futuro. Ele ainda não foi escrito.

Sobre o covarde

Desarme-se de sua hipocrisia, deixe de ser tão covarde e levante-se, levante-se para ir embora, se tiver de ir, se quiser ir, ou levante-se para voltar, se tiver que vir, se quiser vir. Mas decida-se. Cansei de ser uma telespectadora da sua indecisão. O que pretende com isso, afinal? Se é que tem alguma pretensão além de manter o que lhe é mais cômodo. Ai mundo complicado, de hábitos imorais.

Tenho raiva da sua falta de coragem para fazer o que é certo, para fazer algo, qualquer coisa além de ficar parado assistindo as feridas serem abertas, as lágrimas serem derramadas e os momentos sendo cravados nas nossas memórias para nunca serem esquecidos.

Mas sabe do que eu tenho mais raiva? De mim mesma. Por ter te deixado apenas assistir, por não ter te derrubado do seu trono de insensibilidade e o obrigado a reagir. Por não ter levantado a minha voz, por nunca tê-la feito chegar até você.

Hoje as coisas parecem ter sido esquecidas, você deve achar isso. Que esquecemos. Mas nós nunca esqueceremos. A desconfiança será a eterna acompanhante dos pensamentos voltados a sua pessoa. E eu não posso fazer nada a respeito disso, nem você. Ou talvez eu não queira fazer nada a respeito disso. A desconfiança é a ilusão de segurança a qual nos agarramos.

Decida-se, eu pensei em dizer, mas se for voltar, arrependa-se também, porque se trouxer consigo a sua covardia, não espere encontrar as portas abertas. Se levantar e decidir voltar com seu orgulho intacto, eu também me levantarei. Para ir embora.