2 de dezembro de 2012

Sobre o nascimento das ideias


Uma ideia é como um vírus. Resistente. Altamente contagioso. A menor semente de uma ideia pode crescer para definir ou destruir você. 
- Inception

Tem ideia que nasce diferente. Às vezes vem de mansinho, de modo sorrateiro, e de tão devagar, a gente acaba aceitando, acolhendo, abrindo espaço. Deixando fluir e se acomodar. É perfeita, essa ideia, ela se molda e se encaixa. Felicidade, ela traduz. Felicidade branda e terna, quase um abraço. Calmamente, é fixada, e se torna semente, que se torna palavra.

É quase sempre muito simples, essa ideia, e é por ser tão encoberta de simplicidade que dificilmente a percebemos. Na verdade, é ela que nos escolhe, e sua seleção é muito rígida, porém, muito justa. Ela só escolhe os capazes de compreender que sua beleza reside justamente em sua simplicidade. Os outros não a entenderiam. Modificariam a sua essência, fariam perguntas que não seriam capazes de responder. E no final, a abandonariam, julgando-a complicada demais. Não se tornaria semente, muito menos palavra.

Essa ideia nasce e vive assim, confortável dentro da alma, mas existem outras que não. Como aquela ideia. Aquela que não nasce, que invade. Ela não pede licença para entrar, chega de repente, é espaçosa e se faz notar. É uma explosão, essa ideia, que se expande, que faz barulho, e tira tudo do lugar. Egoísta e prepotente. Não sabe o significado da boa convivência e quer toda as atenções e emoções centradas nela. 

Ela é incrível, majestosa, e sabe disso. Vaidosa. Bagunça a gente, essa ideia. Bagunça tudo. Mas não tem jeito. Se ela nasce, você se apaixona por ela. Ninguém resiste. É sedutora e meio insana. Sempre um artigo definido. Definidíssimo.  É como um vírus, se aloja e prolifera. Daí a necessidade de botar pra fora, de combater. São esforços inúteis. Ela é impossível de conter. Impossível não se render. Ideia assim, é bom saber, não morre, só adormece. E quando acorda, enlouquece. Assumiu o controle. 

Tem ideia que nasce diferente. Às vezes causa paz, às vezes causa tumulto. Às vezes humilha, e em outras vezes, é motivo de orgulho. Mas sinceramente, como vai surgir, não importa muito. Contanto que nasça. E  claro, que no fim, a ideia se torne palavra.

24 de novembro de 2012

Sobre cicatrizes


Ela achou ligeiramente engraçado o modo como se trataram quando se reencontraram numa tarde, naquela antiga praça. Agiram como se fossem apenas dois conhecidos seguindo as regras da boa convivência. Atuaram como se não possuíssem um passado em comum, como se no passado, não tivessem chegado a possuir, um ao outro. Os modos eram contidos, e os sorrisos sempre tímidos, a única coisa que podia entregá-los eram os olhos. Os olhos estavam virados, davam voltas, os olhos lembravam.

Ela perguntou como ele andava. Ele admitiu que passava por uns problemas. “Mas nada demais”. Ela sorriu e assentiu como se acreditasse; ainda o conhecia melhor do que ele imaginava. Ele perguntou como ela estava. Ela disse que estava bem. Ele pensou que aquela era a coisa certa a se responder; ela parecia mesmo bem. Passaram algum tempo se encarando, com olhos voltados a um passado distante.

“Você não mudou nada”. Ela comentou mais pra si mesma, do que pra ele. Ele deixou a cabeça pender. “Eu me mudei.” Brincou, disfarçando a frustação que sentia. Não era assim que ela deveria vê-lo depois de tanto tempo. “Você mudou.” Ele sentenciou com certa nostalgia. “O cabelo, eu cortei, pintei...”. “Não”, ele disse, “você mudou aí dentro”. E apontou para a mulher que estava parada a sua frente. Ela esboçou um pequeno sorriso. “Eu cresci”.

Por um instante, a atmosfera entre eles mudou também, tornou-se mais intima e morna. Ele começou a suar. Ela percebeu. Então voltaram a comentar sobre coisas superficiais, sobre o tempo, falar sobre o clima. Era impressão deles ou fazia mais frio na cidade? Sentaram-se um pouco num banco ao lado de uma árvore que fora cortada. Ela lembrou que já estivera ali com ele. Mas lá atrás a árvore ainda lhes fazia sombra. A árvore ainda era árvore. Ficaram por alguns momentos discutindo bobagens que não tinham raízes no passado.

Finalmente ele disse que tinha que ir, já estava atrasado para um compromisso. Ela leu nos olhos dele que não havia nenhum, mas não resistiu a sua partida. Já era mesmo hora deles se despedirem. “Nos encontramos por aí”. Foi o que ele falou. “Até mais”. Ela lhe respondeu. Por dentro, murmurava um resignado “adeus”. Nunca mais se veriam. Nunca mais se esqueceriam.

Deixou que ele sumisse de sua vista e voltou a se sentar. Seus olhos foram atraídos ao presente. Passou a observar a árvore que não existia mais, e se compadeceu dela. Cortaram seu tronco e deixaram-na como se estivesse em carne viva. Expuseram sua ferida. Relegaram-na a mostra só pra ressuscitar na memória a dor da lembrança do que um dia ela foi.

Veio a sua mente a imagem de que eles foram como aquela árvore, um dia flor, um dia frutos, um dia sombra, um dia amor. Um dia a vida cortou o que existia entre eles e deixou que se reencontrassem ali. Para que todos pudessem ver o que restou. Assim como fizeram com a árvore cortada, expuseram a sua cicatriz e ressuscitaram na sua memória a dor da lembrança do que um dia eles foram. Do que deixaram de ser.

Árvores são cortadas todos os dias. E numa proporção bem menor, árvores são plantadas todos os dias. Ela costumava viver de pequenas plantas. Pôs a mão no bolso e tirou de lá algumas sementes que há muito tempo não tinha coragem de usar. Sementes de confiança, de oportunidade, de esperança. Sementes de amor. Levantou-se e foi plantar uma árvore em um lugar fértil a eternidade, decidida a fazê-la crescer, a fazê-la durar. Decidida a não deixar que ninguém a derrubasse. Nem mesmo a vida. Levantou-se decidida a deixar as cicatrizes para trás. Decidida a voltar a amar.

18 de novembro de 2012

Sobre Marcos de Sousa



Marcos de Sousa possui uma forma muito especial de ver o mundo, e é sob esse olhar que ele escreve seus textos, principalmente suas poesias. Sim, Marcos é um poeta, tem um blog lindo e em breve lançará seu primeiro livro: Coração de vidro. Gostaria de conhecer um pouco mais sobre o vencedor do concurso “O que te inspira?”? Então confira essa entrevista que o Marcos deu para o Ideias Defenestradas.

1. Oi Marcos. Bom, começaremos do principio. Há quanto tempo você escreve? Como se apaixonou pela escrita?

Olá, Malu. Bem, eu escrevo há muito tempo. Porém, comecei a escrever mesmo, com o intuito de tornar-se escritor, há três anos. Foi por incentivo de uma professora que leu meus textos, apoiou-me e incentivou a divulga-los.

Na verdade, eu me apaixonei pela leitura e com ela, veio a paixão pela escrita. Infelizmente, me tornei um verdadeiro leitor já tarde. Eu estava na sétima série no ensino fundamental e fui obrigado a ler Machado de Assis. Foi paixão a primeira vista, ou, a primeira lida, como preferir.

2. Quais são os principais autores ou obras que influenciaram o seu modo de escrita?

A princípio, eu me inspirava única e exclusivamente no Machado. Foi meu primeiro amor. Depois, fui abrindo horizontes, conhecendo novos estilos, escritores e acabei apaixonando-me pela poesia. Daí em diante, os autores que mais me influenciaram foram Vinícius, Quintana e Drummond. Posteriormente, conheci Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu. Acabei por aderir aspectos da escrita deles, principalmente o subjetivismo de Caio e a atualização da “epifania” clariciana.


3. E se você pudesse conviver com seu escritor favorito por um dia, quem seria ele? E o que lhe perguntaria?

Essa é difícil. Escolher apenas um entre tantos que venero é quase maldade. Mas acho que eu escolheria o Caio, se ele estivesse ainda vivo, é claro. Talvez até não perguntasse nada. Acho que a emoção seria tanta que eu me calaria diante de seu talento e criatividade. Mas, se conseguisse esboçar palavras, talvez o perguntasse o que realmente o inspirava. De onde e como ele canalizava tanta profundidade e beleza.


4. Pelo que já vi no “O mundo sob o meu olhar” você prefere se expressar por meio da poesia. Por que?

Eu costumo dizer que, para contar um romance em prosa, é necessário escrever um livro. Para contar em versos, basta escrever uma poesia. A poesia é síntese. Cada verso contém um universo. Em cada refrão, tudo muda. Não querendo exaltar a poesia porque eu a escrevo, até porque também amo prosa, principalmente crônicas, mas a poesia e a prosa poética são o ponto máximo da subjetividade e beleza.

5. Falando a respeito da sua participação no concurso. Sua foto combinou perfeitamente com o seu parágrafo, qual a história por detrás dela?

Aquela foto foi tirada na manhã seguinte do meu baile de formatura. Após o baile de formatura, fui assistir o nascer do sol na praia que ficava em frente à casa de festas. A foto não foi combinada, foi tirada espontaneamente. Ela sempre foi uma das minhas preferidas. Até porque, acho o nascer do sol umas das poucas belezas restantes neste mundo.


6. Não posso deixar de falar sobre seu livro. Qual é a sensação de saber que em breve ele será publicado?

Sinceramente, ainda não sei. Ainda não “caí na real”. Desde que recebi o “sim” da editora, parece que minha vida virou um sonho. Não é um sonho virando realidade, mas o contrário: a realidade tornando-se um sonho. Muito mal comparando, acredito que deve ser a mesma sensação de ir ao espaço. Você conquista o que para muitos será impossível.


7. Afinal, sobre o que fala Coração de vidro? Gostaria de falar um pouco dele pra gente?

O livro “Coração de Vidro” é uma antologia poética, ou, um romance em versos, como eu prefiro chamar. Ele demonstra a transformação de uma vida, a metamorfose do ser após ser tocado pelas sutilizas do amor. O livro é divido em duas partes: “Brejo dos Corações” e “Coração de Diamante”. O objetivo é realmente demonstrar as duas fases da vida: o antes e o depois do amor.

Apesar de “brega” para muitos, o amor realmente muda a vida, transforma seres. Ele nos faz pessoas melhores. Provei disso e sei o que estou falando. O amor é, e sempre será, a força geradora da humanidade. As pessoas são tão descrentes deste sentimento porque experimentam a sua versão mais desprezível: a paixão. Elas confundem paixão, desejo e luxúria com amor. Amor transcende a tudo isso. Amor é querer bem, sentir-se bem, tornar a si mesmo melhor. Os românticos, mas só os verdadeiros românticos, me entenderão. O livro é exatamente isso.

Por hoje é só. Obrigado Marcos! E vocês, o que acharam da entrevista dele?

11 de novembro de 2012

Sobre o barulho


Salão de Festas

Eu posso ouvir o barulho
Que ecoa do salão de festas
Eu posso ouvir as vozes
Que vibram ao deixar escorrer a violência
Eu posso ouvir a canção
Dos que entoam a banalização da morte
Eu posso ouvir o mundo
Que irrompe em comemoração
Esta é a celebração da dor
Que a vida acolhe
Como a infância abandonada
Por um pai injusto e cruel
Eu posso ver o tumulto
Das suas danças coreografadas
Eu posso acompanhar seus passos
Ao som da música tocada
Essa cantoria que se espalha
Poderosa e desafinada
Júbilos dos que perderam a fé
Ah, eu posso vê-los
Convidados impassíveis
E assistir a seus atos vãos
Ah, perdoem-me, mas eu posso vê-los
Irreprimíveis
E chorar a sua próxima ação
Inconsequentes
Lançarão em uma mesa de aposta
Os nossos bens preciosos
E o dono da casa sorrirá satisfeito
Em suas mãos, detém a vitoria
A consciência calejada que acusa
É um sussurro abafado pelo desejo
Eu posso sentir
Escorrer pela minha face
As cruas lágrimas vermelhas
Eu sei, chegará o furioso tempo
Em que o véu da ilusão que paira sobre nossos olhos
Se desintegrará
E o barulho que não cessa
Haverá de fluir
Para a margem do desespero
Eu sei, chegará o calamitoso tempo
Em que encararemos o espelho e veremos
As nuances da nossa verdadeira natureza
Atrás de nós, um rastro de sangue
Que não pode mais ser encoberto
Eu posso prever o amanhecer
Que precede o fim da festa
E então não sobrará mais nada
A não ser a sujeira deixada pra trás
Que se acumula em um canto
De um mundo vazio e esquecido
Na tentativa de substituir nossas perdas
O futuro é um rio de águas claras
Quando o jogo terminar
O vencedor levará consigo os ganhos
E a nós, os meros humanos
Não sobrará mais nada
A esperança, a vida e o amor
Entregamos às mãos erradas
Às consequências
Nós perdemos tudo

2 de novembro de 2012

Sobre Comprometimento

- Como posso ajudar? – Perguntou a atendente com um sorriso simpático assim que a Cliente entrou na loja.
- Eu estou procurando por uma boa Amizade. – Respondeu a Cliente. Esquivando-se da Vendedora para olhar além dela. – Já passei em várias lojas, mas parece que o produto está em falta, pois não encontrei em lugar nenhum. – Acrescentou.
- Bem, nós também não possuímos esse produto no nosso estoque no momento. – Admitiu a Vendedora. – Mas podemos encomendar para a senhora se quiser.
A Cliente maneou a cabeça, frustrada.
- Bom, em no mínimo três ou quatro anos.
- Meu Deus! É muito tempo.
- Eu sinto muito, mas é um produto extremamente difícil de ser confeccionado. Principalmente se quiser garantias.
- Sim, sim. É claro que eu iria querer garantias.
- Então terá de esperar por uns três ou quatro anos.
- Não, tudo bem. Deixa pra lá. – Disse, em desistência.
- Espere! – Pediu a vendedora procurando uma maneira de não perder a cliente. – A senhora não quer dar uma olhada nos outros produtos? Temos de tudo aqui... Quero dizer, quase tudo.
- Eu não sei... – A Cliente pensou por um tempo, aumentando a ansiedade da Vendedora. – Vocês não teriam algum Amor perdido por aí, teriam?
O rosto da vendedora iluminou-se automaticamente.
- Oh, é claro! O que não falta é amor! Siga-me. – Pediu a Vendedora, enquanto rapidamente se pôs a caminhar por entre prateleiras lotadas de produtos que não paravam de sair e, quase ao mesmo tempo, de serem repostos.  A Cliente passou o olho por um desses produtos e leu: VINGANÇA. MAIS RÁPIDA E EFICIENTE. Passou direto.
- Aqui está! – Cantarolou a Vendedora, muito animada, erguendo os braços para a prateleira a sua frente. A Cliente se aproximou de um dos frascos que ali estavam. Dizia: PAIXÃO INSTANTÂNEA. FICA PRONTA EM APENAS 3 MINUTOS!
- Na verdade, eu queria Amor e não Paixão. – Explicou a Cliente, desanimada.
- E qual a diferença? – Perguntou-lhe a Vendedora de modo desdenhoso.
- Bem... Paixão é comida industrializada. – Respondeu a Cliente, dando de ombros. – Amor é matéria-prima. Amor a gente prepara em casa.
- Mas também não demora de ficar pronto?
- Sim, mas...
- Pois então! Se não é capaz de esperar pela Amizade, quanto mais será capaz de esperar pelo Amor! – A Cliente calou-se, percebendo que ia ter de aprender a esperar se quisesse algo de valor.
- E... E sucesso? Vocês têm?
- Ora, mas é claro! – Disse exultante a vendedora, voltando a conduzir a Cliente pelos labirintos da loja. Finalmente algo que eles tinham de sobra. Depois de um minuto, parou em frente a uma prateleira. – Temos Sucesso de todos os tamanhos e cores. Pode ficar à vontade.
A Cliente se aproximou com certo receio. Tocou em alguns Sucessos e reparou nas suas cores e nos preços exorbitantes.
- Mas são muito caros!
- Mas vale a pena.
Na verdade, não valia. Todos os Sucessos pareciam mal feitos e artificiais.
- E então? Qual vai levar?
- Acho que nenhum.
- Nenhum?! – Já irritada, a Vendedora se exaltou um pouco. – Por que?!
- É que... – A Cliente procurou uma desculpa. – Eu Percebi que ainda tenho algum Sucesso em casa e está em boas condições. O que eu quero mesmo é uma dose de Organização. Vocês teriam por aí?
A Vendedora suspirou, cansada. Começou a pensar que aquele seu esforço não valeria a venda. Voltaram a caminhar por entre as fileiras de produtos tão apressadamente que de vez em quando a Cliente se esbarrava em alguma coisa.
Num desses esbarrões ela percebeu que havia derrubado algum produto. Era um saco velho, meio empoeirado, já com a data de validade apagada. O pegou de qualquer jeito e o devolveu a prateleira a que parecia estar confinado para o resto da vida. Foi quando notou do que se tratava: COMPROMETIMENTO.
Aquilo ainda existia? Ficou tão surpresa que acabou retirando novamente o COMPROMETIMENTO da prateleira. Olhou-o com mais atenção. Sabia que era um tipo de fertilizante. Bom, ela não tinha uma plantação, mas sempre achou que seria uma boa ideia ter uma. Daria trabalho, ela sabia, mas se não desse certo, ao menos seria uma boa aventura.
Espere. O que ela estava pensando? Não era pra isso que servia o comprometimento? Para que, apesar do trabalho empregado em qualquer coisa, ela valesse a pena no final? Sim, acreditava que era algo assim.
Recuperando a agitação, chamou pela vendedora que se voltou com uma expressão carrancuda.
- Esqueça a ORGANIZAÇÃO, o SUCESSO, a AMIZADE e o AMOR. Eu vou levar isto. – entregou-lhe o saco de Comprometimento.
- Mas e quanto ao resto?! – Desesperou-se a Vendedora.
- Ah, não se preocupe! – Disse-lhe. – Eu vou cultivar os meus próprios produtos.



26 de outubro de 2012

Sobre insensatez


Insensatez

A minha mente desmente a tal demente lucidez
Decerto ludibria o meu espirito sedento de sanidade
Desdenha da minha cadencia desequilibrada
Me desarma
Desenha sombras onde sobra escuridão
Desata os fios solitários da minha sensatez
Desequilibra e desconcerta o centro do meu ser
E quando não há mais nada
Se despede
Abandona a alma que se desfez
De vez

19 de outubro de 2012

Sobre 7 coisas e Minha caligrafia


Recebi o selo da Luciana Souza e prometi a mim mesma que ia deixar a preguiça de lado e fazer o Meme que o acompanha. As regras são:

Postar o selo e quem o entregou;
Postar sete coisas sobre mim;
E indicá-lo a 15 pessoas.

7 Coisas:

1. Tenho uma memoria muito ruim. Do tipo que só precisa virar a página para esquecer o que leu na que se passou. Em um tipo muito injusto de compensação, consigo me lembrar de bobagens ditas pelos meus amigos quando preciso retrucar algum ponto.
2. Atualmente, a maior parte dos livros que leio, leio no ônibus ou na calada da noite, como uma fugitiva. 
3.  Quando começo a gostar de uma coisa (filmes, livros, séries, HQs) fico insuportável. Não consigo falar de outra coisa. E meus amigos são obrigados a me ouvir. 
4. Quando estou muito irritada, um filete de sarcasmo escorre da minha língua. Sempre acabo magoando alguém no processo, mas não consigo evitar.
5. Costumo ficar muito na defensiva. Muito mesmo.
6. Tenho uma paciência extremamente variável. Em certos momentos sou bem irritável, no entanto, com pessoas mais estressadas que eu ou em situações em que preciso lidar com algum problema que os outros não conseguem, eu fico surpreendentemente calma. Chama-se: O equilíbrio do universo. hahaha
7. Climas muito quentes - como o que fez hoje - pioram meu humor. Gosto do frio, coisa que raramente aparece aqui em Salvador.

Por fim, é importante que se diga: Quando me propus a postar sete coisas sobre mim, esqueci completamente qualquer fato a meu respeito. Tive de pedir ajuda. Isso é sério.

E pra aproveitar, posto logo outro Meme que me foi indicado há muito tempo e acabei não fazendo. Foi indicado pela Dinha e a ideia era responder as seguintes perguntas com a minha caligrafia:

1- Qual seu nome?
2- URL do seu blog:
3- Escreva: "A rápida raposa marrom pula sobre o cão preguiçoso."
4- Citação favorita:
5- Música favorita (no momento):
6- Cantor/banda favorito no momento:
7- Diga o que quiser:
8- Indique 3 ou 5 blogs:


































P.S.: Desculpem a quantidade da referências ao The Killers, mas é que minha paixão pela banda se reacendeu depois que eu soube que eles virão para o Lollapalooza e eu não irei ao show.

Não sobrou espaço no papel para indicar os blogs. E não sobrou muita animação também. Amo receber selos e Memes, mas eu demoro pra fazer e acabo cansando já no meio da postagem (rs). Então se você que me lê quer levar esses Memes, que o faça, e depois deixa o link para eu conferir, certo?

11 de outubro de 2012

Sobre certos detalhes

Detalhes


Abriu os olhos. Imaginou que tudo seria diferente. Foi despertando. Preguiçosamente. Deixou que os braços passeassem em cima de um pedaço ressentido de cama. Um pedaço vazio.  Deitada de bruços sobre a saudade, apertou seu travesseiro contra o peito apertado. Encolheu-se ao sentir soprar a ausência presente no tempo. Tudo será diferente.

Encarou um ponto na parede amarelada do quarto. Suspirou, reparando pela primeira vez no modo como a luz tremeluzia ao atravessar a cortina sem cor que cobria a janela. Deixou a mente vagar em detalhes superficiais que nunca havia notado. E que a tranquilizavam. A cortina não tem cor.

Levantou-se lentamente, como normalmente fazia. E fez café. Pra dois. Porque era normal pra ela. Tê-lo ali. Sorriu para a cadeira solitária a sua frente. Percebeu que uma das xícaras não tinha asa. A xícara cujo café, momentaneamente fumegante, esfriaria. Assistiu ao calor se dissipando, e o viu desaparecer.  Uma xícara não tem asa.

Se arrumou. Parou em frente ao espelho. Viu uma ponta rachada que a dividia em duas. Permaneceu ali. Ainda que não houvesse ninguém para lhe pedir pra ficar um pouco mais. Pra voltar pra cama e se despir. Ou só pra se despedir. Já haviam se despedido. Fazia algum tempo. Pegou a bolsa. E saiu. O espelho está quebrado.

O dia se alongava tristemente diante dela. Lá fora o clima de sempre. As mesmas pessoas. Os mesmos sorrisos. As mesmas alegrias. As mesmas ansiedades. Os mesmos problemas. Trabalhou o dia inteiro e mal respirou. Não teve tempo de pensar. Ficou agradecida. A vida de sempre. Voltou pra casa.

Fechou os olhos. Se deu conta de que tudo continuava igual. A única coisa que tinha mudado ainda batia de forma dolorosa. Dentro dela. Tentou restabelecer a fé. O amor tinha dessas desilusões. Mas ainda valia a pena. Sim, fazia bem um pouco de fé. Começou a aceitar. Aceitar que era hora de seguir em frente. E perdoar a dor da partida. Até que retorne. Novamente. Por fim, adormeceu.

 A cama é maior do que ela se lembra.
Ideias Defenestradas Ressurge (Parte 2): Uma coisa que mudou com a minha volta é o fato de que estou respondendo os comentários digníssimos de vocês. Segundo uma amiga, é mal educado defenestrar minhas respostas quando meus leitores não jogam suas opiniões pela janela. Então, voltem para conferir a resposta, okay? Fora isso, continuarei retribuindo os comentários como costumava fazer. Por hora, é só. Fade out.

5 de outubro de 2012

Sobre o que se quer (E Ideias Defenestradas: Ressurge)


O passado imperfeito

Ela queria aceitar aquele sorriso que tentava discretamente esconder, acolher a espontaneidade e a naturalidade com que ele podia realçar os seus lábios e o seu espirito. Ela queira aceitar o abraço e o carinho, agarrar-se a leveza e a excitação do toque que chega sorrateiramente.

Ela queria a coragem de assumir o medo, queria ser amável e gentil, ela queria dizer palavras doces. E sussurrar ao pé do ouvido. Arrepio. Ela queria carregar dentro de si todas as cores do mundo e pintar as paredes da vida com tons um pouco mais serenos. Ela queria ver o mar, no seu ir e vir constante. Tranquilo.

Ela queria afastar as cortinas, abrir as janelas e deixar a luz invadir o seu espaço, pra acordar e se espreguiçar dentro dela. Devagarinho. Ela queria flutuar, tocar o céu, fazer da nuvem travesseiro. Pra sonhar. Ela queria não dever renegar o seu querer. Queria ele. Perto dela. Ela queria não querer o que não tinha. O que não podia querer.

Ela queria formar laços, ao invés de apertar os nós. Ela queria que tudo fosse mais simples, menos complicado do que é. Ela queria se desfazer dos seus próprios conflitos pra se permitir renascer. Ressurgir a base da esperança. Emergir do otimismo. Ela queria encostar a cabeça, sem sentenciar o desistir. Por um momento só. Queria deitar e dormir.

Ela não quer mais a palavra que chora. Ela não quer mais a dor que a atormenta. Ela não quer mais a lágrima que escreve. Ela não quer mais tentar conceber o futuro, ou encostar-se ao passado. Ela não quer mais se perder. Se perder entre os segredos do universo. Se perder na complexidade da vida. Se perder.  Se render. Para a confusão de si mesma. Não, ela simplesmente não quer mais. A verdade é que ela... Ah! Ela só queria paz. Ela queria. Um pouco de paz.

Estou aqui me perguntando se há alguém que ainda retorna a esse blog à procura de novos posts. Bem, eis um pequeno e condensado relato do que aconteceu para que eu sumisse: As palavras fugiram. De novo. Eu me forcei um pouco, tentei escrever mesmo sem elas, e os textos iam surgindo. Trôpegos, frágeis e vazios. Completamente frustrada por não estar conseguindo escrever nada que me deixasse satisfeita eu acabei me afastando do blog. Basicamente, eu o abandonei por causa da minha coragem de encará-lo (só que não). É bom que vocês saibam, sou covarde. E foi assim. Mas estou de volta, motivada a me dedicar novamente a esse espaço. Muita coisa para uma volta só. Vou deixar o resto para o próximo capitulo. Não é bom saber que vai ter outro? É.

17 de agosto de 2012

Sobre o resultado de "O que te inspira"

Então queridos, vocês já devem ter percebido que esse blog está paradão né? Bem, mas não estou aqui pra falar disso, deixemos esse assunto para o próximo post. Hoje eu vim – FINALMENTE – anunciar o vencedor concurso “O que te inspira” feito com a Dinha, do Árcadia.

Sinceramente, achei as fotos muito boas. Gostei particularmente de cada uma delas, mas a que escolhemos foi a que, além de bonita, podia revelar a inspiração do seu autor à primeira vista. A que mais se relacionava com o texto que a pessoa escreveu.

Sem mais delongas, vamos ao vencedor deste humilde concurso:


Marcos de Sousa!!!
(Aplausos aqui, por favor)

"Minha inspiração está no morrer da noite e no raiar do dia. Ela é cíclica, desfaz-se e nasce. Ressurge no horizonte a cada amanhecer. Minha inspiração é como os raios do sol que brotam fracos e belos. Nem sempre está à vista, as nuvens sombrias algumas vezes os obstruem, mas eles estão sempre resplandecendo dentro da alma. Minha inspiração é o nascer daquilo que é divino refletindo nas águas. É ver que a cada nascer, há um brotar de esperança. É sentir essa esperança e transformá-la em paz. É ser só ao assistir o nascer do sol, mas se sentir pleno, completo."

Enfim, o Marcos ganha a divulgação do blog dele aqui e no Árcadia por um mês, além da entrevista. E quanto aos outros, agradeço mesmo a participação - sério gente, achei que ninguém ia se interessar pelo concurso -, amei as frases e as outras fotos, que deixo aqui pra vocês darem uma conferida.


Concordam com nossa escolha? Discordam? Fiquem a vontade para dar seus pitacos. 

24 de junho de 2012

Sobre estruturas

Pessoas não são edifícios, mas também são constituídas de estruturas. Somos de certa forma, formados por lajes, vigas, e principalmente, pilares. Os pilares compõem a parte mais importante das nossas estruturas, pois é sobre ele que geralmente lançamos todos os outros esforços resultantes das lajes e das vigas. Estes tem de ser, portanto, bem calculados e colocados. Um edifício com problema em uma viga ou em uma laje pode sobreviver, no entanto se ocorrer a falência de um pilar ele irremediavelmente desabará.

Nossos pilares têm de ser firmes para aguentar qualquer carga que possa nos sobrevir. Para aguentar o peso dos nossos desvairados sentimentos, das nossas expectativas frustradas, dos nossos desejos repentinos, das nossas lembranças amargas. Nossos pilares têm de ser capazes de resistir a nós mesmos por completo e a pesos a mais, lançados sem aviso sobre nossos ombros, sobre nossas lajes. Por mais cálculos que nós façamos, sempre seremos pegos de surpresa por alguma nova carga. Na vida as coisas são muito mais imprevisíveis do que na engenharia.

Nossos pilares podem, além disso, ser de fôrmas diferentes. Devemos analisar muito bem antes de escolher aquele ou aquilo que nos sustentará, pois um pilar não pode amparar duas edificações ao mesmo tempo. Se decidir se apoiar em alguém, e fazer dela seu pilar, certifique-se de que essa pessoa é forte o suficiente para aguentar o peso dos dois. Certifique-se também de que ela quer aguentar o seu peso, não ignore o fardo dessa responsabilidade. Não trate com descaso, você ficará dependente dela pelo resto da vida.

Se os seus pilares não são resistentes o suficiente, assim como numa construção, você desabará. Restará então, apenas uma nuvem de poeira daquilo que estivemos construindo desde o momento em que nascemos: A nós mesmos. Em alguns casos, é possível se reconstruir, se reerguer novamente, mas isso demanda tempo e muito esforço. Porém é importante mencionar que não devemos fazer isso sozinhos, afinal, grandes obras não podem ser construídas por um único homem.

No fim, por mais que resistamos às cargas da vida, não seremos capazes de ir contra os efeitos do tempo. Todos nós teremos o mesmo destino: a queda. E quando esse momento chegar, nem mesmo o mais forte dos pilares será capaz de impedir. Enquanto ainda estamos firmes, devemos continuar a construir pavimentos cada vez mais sólidos em nossas estruturas, devemos, dessa forma, continuar a crescer. Não numa busca para alcançar os céus e a perfeição celestial, mas numa busca para alcançar o melhor de nós mesmos.

Se nos construirmos fortes, quando a queda chegar desapareceremos apenas do mundo físico, estaremos, entretanto, sempre vivos na memória daqueles que um dia passaram pelas ruas das nossas vidas, viveram em nós ou somente admiraram por alguns instantes àquilo que um dia nós fomos. As pessoas raramente reparam algo num edifício além de sua fachada. Uma pena. Ás vezes a estrutura é a parte mais bonita.

Para os meus colegas de edificações. 
Mantenham os seus pilares firmes, porque Estruturas está só começando.

20 de junho de 2012

Sobre "O que te inspira?"

Chegou o momento de conferir o resultado do concurso: "O que te inspira?" As frases abaixo foram as que eu e a Dinha escolhemos, e os seus autores passam para a próxima etapa. Lembrando que nessa segunda fase os finalistas terão de tirar uma foto que represente a sua inspiração.

Quer saber quais os parágrafos vencedores? Aí estão eles, acompanhados de nossos comentários:


"Pessoas são interessantes e complexas, porém, elas possuem uma razão para serem assim. Aos sentimentos atribuo essa responsabilidade, e sobre eles escrevo. Inspira-me como todo o mundo é regido por sentimentos. Sentimentos esses que podem ser degustados, estudados, julgados, escondidos, escritos, ou, simplesmente, sentidos."

Percebe-se a sensibilidade da visão dele com relação às pessoas, seus sentimentos e aos dele próprio. É uma responsabilidade e tanto falar sobre eles sem se equivocar e é interessante quando ele fala “sentimentos que podem ser degustados, estudados...”. Foi um dos parágrafos mais simples e mais tocantes que eu li. – Dinha
Simples, mas extremamente verdadeiro. Sentimentos são difíceis de serem estudados, no entanto é muito bom prová-los e aprová-los, claro. – L.


Inspira-me a vontade de voar. De estar nas asas de uma borboleta, de ser uma andorinha perdida no ar, uma gaivota pairando no mar. Inspira-me a liberdade que só o céu tem. O infinito que me ronda, o indefinível ; o tudo e o nada juntos; o que meus olhos não conseguem ver; o que meus ouvidos não conseguem captar; o que a minha voz é incapaz de conceituar; o que minhas mãos não conseguem alcançar; o que só a minha mente é capaz de imaginar. O que abraça o amor e a felicidade e traz-me os dois; O que me faz sonhar de dia e de noite; O que me faz escrever loucamente o que se passa em tal louca mente. É exatamente isso que eu quero, e é exatamente isso que me inspira: A tal liberdade batendo as asas.

Os sonhos são inspiradores e parece tudo aquilo que a gente não consegue medir nos faz querer escrever. É uma delícia estar inspirado por essas coisas, só é complicado transcrever para o papel tudo o que o coração diz! Lindo parágrafo, está de parabéns! – Dinha
Lindo! Gostei da brincadeira com as palavras, do ritmo, da forma meio poética como conduziu o parágrafo. Realmente tocante e animador. – L.


O que me inspira é a subjetividade da vida, os sentimentos arraigados dentro de mim que pedem, suplicam para sair e se transformarem em palavras, em frases, em textos, com sentido ou sem, minha inspiração vem daquela música que ouvi numa tarde chuvosa, da criança que ouvi rindo na rua enquanto passeava com a mãe, do amor que senti quando era jovem e sonhadora. Minha inspiração vem além de tudo, de dentro de mim.

Também deu ao parágrafo um tom de poesia que poucos conseguem dar. Inspirações tão belas só podem gerar textos belos, frases tocantes e verdadeiras, que falam com sinceridade do coração. – Dinha
Este é o tipo de inspiração mais íntimo que existe, e portanto, talvez o mais sincero. É tocante e muito fácil de eu me identificar com um texto quando sinto que ele representa um pouco da alma de outra pessoa. – L.


Minha inspiração está no morrer da noite e no raiar do dia. Ela é cíclica, desfaz-se e nasce. Ressurge no horizonte a cada amanhecer. Minha inspiração é como os raios do sol que brotam fracos e belos. Nem sempre está à vista, as nuvens sombrias algumas vezes os obstruem, mas eles estão sempre resplandecendo dentro da alma. Minha inspiração é o nascer daquilo que é divino refletindo nas águas. É ver que a cada nascer, há um brotar de esperança. É sentir essa esperança e transformá-la em paz. É ser só ao assistir o nascer do sol, mas se sentir pleno, completo.

Como um bom poeta, poetiza a sua própria inspiração. Isso é lindo, porque até para a fonte da escrita você consegue desenvolver um texto dedicado. Sem palavras. – Dinha
Gostei da descrição que fez do anoitecer e do amanhecer, e principalmente, gostei da forma como relacionou este magnifico ciclo com a sua inspiração. Percebi um cuidado na hora de colocar as suas palavras que achei muito bonito. – L.

Então, o que acharam dos parágrafos escolhidos? Deixe a sua opinião, e se quiser, responda também: O que te inspira?


ATENÇÃO: Os vencedores deverão postar o link de suas fotografias aqui até o dia 05/07. Não esqueçam!


13 de junho de 2012

Sobre a música que canta o silêncio da noite


Existem certos acontecimentos que permanecem vivos em nossas memórias apesar da sobrepujante força do tempo. Tão vívidos que por diversas vezes somos capazes de revivê-los. E de senti-los, como se as lembranças estivessem correndo em nossas veias, pulsando. Tem momentos que nos marcam profundamente, e outros, que mudam as nossas vidas. Esse é um deles.

A minha vida era a mesma desde a desgraça do meu nascimento. Há dezoito anos eu estava preso em uma eterna rotina miserável. Sem novidades, ou qualquer outra coisa que me lembrasse de vez em quando de que eu não estava morto. O meu coração era uma noite infinita, no qual a única canção tocada era a música do silêncio. Eu costumava dizer que havia desistido de buscar a felicidade, mas a verdade é que eu nunca tinha tido coragem pra ir em busca dela. Pra aceitar fracassos, se necessário. A verdade é que eu havia me acomodado.
Quando a gente se acomoda é fácil ter medo de mudar, é fácil se deixar pender a covardia. E diante da minha covardia, não restava espaço para que eu fosse aquilo que eu queria, ou para que eu fizesse o que realmente desejava.  Diante da minha covardia não havia espaço para mim mesmo. Porém meus olhos estavam fechados para tais verdades até os acontecimentos daquele dia. Até beijá-la.
Eu nunca havia presenciado uma noite como aquela. A escuridão me cobria tão intensamente que pesava sobre os meus ombros. A chuva fria se deixava conduzir pelas violentas mãos do vento, enquanto caia compondo o único som que percorria aquelas ruas solitárias. Em minha teimosia acreditei poder chegar em casa antes que a água começasse a despencar do céu. Agora, eu procurava abrigo.
Corri para o lugar coberto mais próximo. Um toldo escuro que protegia da chuva uma grande caixa, que por algum motivo eu nunca havia reparado  antes. O vento balançava o pano que a cobria e de vez em quando brincava de revelar o que estava por baixo, até o momento em que comecei a ficar curioso. Perto dela, eu a olhava de relance, como se estivesse diante de alguma ameaça. O vento, se compadecendo de minha curiosidade extrema, em uma rojada furiosa descobriu o que quer que fosse aquilo.
O susto foi tão grande que eu praticamente pulei pra longe, cambaleei e cai na chuva. Sentindo os pingos gélidos que atingiam a minha cabeça comecei a ficar dividido entre continuar me molhando e voltar para debaixo do toldo, pra perto do mistério e do perigo que eu sentia envolver aquela cela. Porque aquilo não era uma caixa, era uma jaula.
Dentro dela, pequenos olhos negros, tão negros quanto a noite que se elevava a cima de nós, me encaravam sob a tênue luz. Surpreendentemente a prisioneira era apenas uma menina, que de nada tinha de assustador a não ser os seus olhos frios. Me aproximei novamente, me deliciando com aquela intimidadora descoberta. A menina, encolhida num canto, engatinhou pra perto de mim também. E sorriu maliciosa
- Está com medo de mim? – Ela perguntou em uma voz macia.
- Bem, - eu disse – as celas existem por um motivo.
- Você não conhece o meu motivo para estar aqui.
- Não. – Eu murmurei. – Justamente por isso eu tenho medo. As pessoas costumam ter medo daquilo que desconhecem.
A menina gargalhou, se aproximando das grades de sua prisão. Sob a pouca luz do luar, seus olhos se tornaram ainda mais sombrios. A cada frase sua voz se tornava mais atemorizante do que a canção silenciosa que a noite costumava cantar pra mim.
- E você entende do assunto.
- Não. – Respondi automaticamente.
- Não foi uma pergunta. Eu sei que você entende do assunto.
Ela estava certa. Eu entendia de ter medo do desconhecido, mais do que deveria. Mais do que queria. E ela... Ela entendia de mim. Eu percebi naquele momento que aquela menina me conhecia. O temor percorreu todo o meu corpo, podia sentir a minha alma começando a desandar.
- Quem é você? – Eu perguntei o mais firme que consegui. Intrigado e assustado.
- Eu? – Ela sorriu divertida e pendeu a cabeça inocentemente. – Eu posso ser qualquer um. Sua mãe, seu pai, sua irmã. Uma pessoa do outro lado do mundo.  – A menina parou de sorrir e me encarou séria, pronta pra cantar a minha sentença. – Eu. Posso. Ser. Você.
Comecei a levantar, me sentindo fraco, ofegante e um pouco trêmulo. Estava me preparando para fugir daquele instante, correr daquele lugar, mas as minhas pernas pareciam congeladas.
- Eu não sei o quê ou quem você é, mas não tem nada a ver comigo! – Gritei, sem certeza alguma.
- Não?! – Ela ergueu-se de súbito e segurou firmemente nas grades que a cercavam, como se estivesse disposta a arrancá-las a qualquer momento. – Você iria adorar acreditar nisso, não é?! Ah, como você ia adorar. Mas é tarde demais, você já entendeu a verdade. Você já percebeu, e mesmo que não admita, sabe que nós somos a mesma coisa. Eu sou você.
- Não! – Gritei o mais alto que pude. Tentando negar a mim mesmo, mas a voz dela, a voz da noite era mais alta do que qualquer pensamento confuso que eu pudesse ter.
- Eu sou você! E essa é a nossa prisão! Está feliz aqui dentro queridinho? Está feliz vivendo dentro de uma cela?! - Ainda sem conseguir me mexer ela me agarrou pelo colarinho da camisa e me puxou pra perto dela e de sua jaula. Exibiu um sorriso insano antes do tocar os seus lábios nos meus. Lábios com gosto de sangue, de desespero. Lábios com gosto de dor. Minha dor. E foi como se ela me tivesse aberto os olhos, eu pude enxergar a maneira como eu vivia. Pela primeira vez, eu vi a cela. Retomando a minha razão a empurrei pra longe o mais forte que pude, fazendo-a cair no chão. A menina não retornou, apenas levantou a cabeça e me encarou com um olhar enebriado de uma amarga loucura. – Bem vindo ao lar.
É cômodo sobreviver em uma cela enquanto você está de olhos fechados. Você não percebe que vive nela. Você aceita sobreviver preso enquanto não compreende que se limita, que se restringe. Eu aceitava sobreviver preso, eu decidi viver.
Foi então que consegui começar a correr, em direção a escuridão e as lágrimas do céu, deixando a menina e sua cela pra trás. Mas sabendo que eu nunca voltaria a ser o mesmo, porque não importa pra onde eu fosse, sua lembrança, a lembrança do que eu era e da minha prisão, estariam sempre comigo. Não importa o quanto eu corresse, eu nunca me esqueceria da desesperadora música que cantou o silêncio da noite. Naquela noite eu ouvi a cruel canção da verdade. E jamais meu coração fez silêncio de novo.

5 de junho de 2012

Sobre meus filmes preferidos

Vi uma lista como essa na Jeniffer e gostei tanto que resolvi fazer também.

Adquiri uma paixão por filmes faz algum tempo, quando passei a assistir filmes antigos. Me encantei completamente ao mergulhar neste universo. Os filmes me conquistaram tanto que hoje vê-los se tornou um dos meus piores – ou seria: melhores (?) – vícios. Foi muito difícil decidir quem entraria nesta lista, se eu fosse por todos os que eu queria ela ficaria grande demais. Então aqui estão apenas alguns dos meus filmes preferidos:

De volta para o futuro


Acredito que esse filme seja a cara dos anos 80. É divertido, tem uma trilha sonora incrível, personagens marcantes e uma história jovem e cativante.  É aquele tipo de filme que você não se cansa de ver e na minha  humilde opinião um dos melhores filmes feitos com a temática viagem no tempo. Amo como os detalhes são colocados no filme e amo que aquele simples papel em que a garota do Marty anota o número dela seja o que vai permitir que ele descubra como voltar para o futuro.

Gattaca


Uma vez meu professor mencionou esse filme na aula de ciências e eu nunca mais esqueci. Só a pouco tempo que consegui assisti-lo e achei incrível. A história se passa em um futuro onde os humanos são criados geneticamente em laboratórios, as exceções a essa regra são considerados como inválidos. Imperfeitos, sujeitos a doenças diversas como nós hoje e portanto inválidos para ocupar os altos cargos na sociedade. É aí que entra a história de um homem - inválido - que não se sujeita a essa regra e supera todos os obstáculos para alcançar o seu objetivo. Apesar de se passar no futuro, a ambientação, o figurino, os automóveis, tudo evoca uma atmosfera antiga que encanta ainda mais.

O Show de Truman


Não sou fã dos filmes do Jim Carrey, mas nesse ele conseguiu me conquistar. É uma comédia original com tempo suficiente para reflexão. Uma sátira aos reality shows, uma critica a mídia que tenta e consegue moldar a mente do telespectador desavisado, e além disso, uma critica ao próprio telespectador. Lembro-me de assisti-lo pela primeira vez quando criança e a cena em que - SPOILERS -  o Truman sai pela porta do "céu", a gigante cidade cinematográfica, ter ficado gravada em minha memória me fazendo procurá-lo mais tarde.

Sociedade dos poetas mortos


Me emocionei demais com esse filme, mas especificamente com essa cena. A história de um professor que ensina muito mais do que apenas uma matéria a seus alunos, os ensina a pensar por si mesmos e a transgredir regras ditas como certas. Os ensina a aproveitar o dia. Sim, Carpe Diem, my captain.

Forrest Gump


Tem como não se encantar pela história de Forrest? E daí que ele tem um Q.I abaixo da média? Acho incrível como eles associam os grandes acontecimentos do mundo com a vida do humilde e cativante Forrest. Uma vida cheia de altos e baixos que trazem belas lições. Sem contar que a atuação de Tom Hanks é tocante por si só.

Cantando na Chuva


What a glorious feeling! O meu musical preferido de todos os tempos. Já perdi a conta de quantas vezes já vi, ri, cantei e me emocionei com Cantando na Chuva. Gene Kelly e seu guarda chuva formam um dos pares mais perfeitos da história do cinema. O filme não possui nada de complexo, é simples e divertido como poucos, e talvez por isso, consiga ser inesquecível. 

Bonequinha de Luxo


Acho a Audrey Hepburn diva, não nego. Seus filmes não são perfeitos, mas a Audrey consegue fazê-los de um jeito tão especial que me fascina. Bonequinha de Luxo é provavelmente o mais conhecido dela, um clássico cheio de charme e delicadeza. A verdade é que eu me identifico com alguns dilemas da Holly e do seu gato sem nome. (Alguém aí cantarolou Moon River?)

Casablanca



Rick Blaine e o seu cinismo são inesquecíveis, assim como Ilsa e Sam - que podia tocar de novo pra mim "As Time Goes By" quantas vezes ele quisesse. (rs) A história é maravilhosa, nem vou comentar. Se você não viu, digo simplesmente que veja. 

Star Wars


É claro que eu não poderia deixar de falar de Star Wars né? A trilogia clássica é nada mais nada menos do que isso: Clássica. Com tantas outras sagas mais atuais por aí é difícil falar de Star Wars, é difícil ser fã de Star Wars, ninguém mais tem a Força, todo mundo só ouviu falar daquele cara do lado negro, e pronto. Eu sou apaixonada por estes personagens e por essa história que atravessa gerações. 

Luzes da cidade


Tarefa árdua é essa de escolher um entre os filmes de Chaplin. Mas escolhi esse porque sempre me emociono nessa cena, não importa quantas vezes assista. O Vagabundo que fez de tudo pela florista cega é finalmente visto por ela e reconhecido. É comovente. Divertido também em outras cenas, como na cena da luta e a sua dança coreografada. Sim, também rio todas as vezes. Enfim, com certeza um dos meus preferidos.

Gente, mil perdões pelo tamanhão desse post. Me empolguei demais! Se você chegou até aqui agradeço a sua presença, mas já pode sair porque os créditos finais já estão subindo. ^^

Sua vez: Quais os seus filmes preferidos?