11 de agosto de 2013

O Chaveiro Real



Nasceu, há muito tempo atrás, o primeiro filho de um chaveiro e de uma feiticeira. Desde pequeno, o menino demonstrou que possuía um talento especial. A primeira chave que fez, abriu a porta para a sua fama e fortuna. Unindo as ferramentas do pai e a magia da mãe, ele era capaz de destrancar qualquer fechadura, fosse ela física ou imaterial.

Ao notarem o dom do filho, os seus ambiciosos pais logo o puseram para trabalhar. Começou com trabalhos simples, cobrando pouco e abrindo portas que guardavam apenas pequenos segredos. Mas com o passar do tempo, foi encarregado de realizar trabalhos maiores, atraindo a atenção da alta corte.

O rapaz crescia e prosperava, ensinado pelos pais a ansiar sempre por mais, tomava uma dose de arrogância por dia. Foi acolhido pelo rei, com a condição de que se tornasse o chaveiro real, e que, para ele, realizasse qualquer trabalho, por mais duvidoso que pudesse parecer. Sua fama era conhecida por todos, não havia porta que o Chaveiro não pudesse abrir, não havia trabalho que recusasse.

Um dia, o Rei lhe pediu que abrisse a porta para um reino vizinho, do qual era inimigo. O saquearia e o destruiria, mataria os seus homens e roubaria as suas filhas. De olhos fechados, o Chaveiro a tal chave fabricou, permitindo que os planos do Rei fossem concretizados. Inebriado com a sua vitória, o Rei mandou que se organizasse uma festa em homenagem ao seu braço direito: o Chaveiro Real.

Todo o povo fora convocado a comparecer e comemorar, ainda que se soubesse que alguns entre eles choravam a perda de parentes no reino devastado. Muita bebida e comida foram preparadas, o salão do palácio foi limpo para recebê-lo, e todos preparativos realizados mediante o olhar atencioso de seus pais. Pois afinal, procuravam garantir que o filho tivesse a maior festa de todas. E que pudessem usufruir de tudo.

No hora marcada, os convidados começaram a chegar, nobres e plebeus, encheram o salão para prestigiar a sua ilustre presença. O Chaveiro pensou em como muitos deviam estar invejosos de sua posição, e em como ele devia estar se sentindo satisfeito por ter tudo o que sempre almejara. Não estava. Queria algo mais. Mas o quê?

Foi a rodopiar pelo salão, que encontrou os olhos da moça mais bela que já havia visto. Ela calçava plumas, e vestia ouro, mas sorria de tal maneira simples, que poderia se passar por uma camponesa, se assim quisesse. Cada passo seu possuía uma cadência delicada, que o fez pensar, por um momento, que ela levitava. Queria ela.

Aproximou-se e tirou-a para dançar, não ousaram negar-lhe a sua mão. Enquanto dançavam, juntos, durante toda a noite, o Chaveiro já começava a pensar em como fabricaria a chave que abriria a porta daquele terno coração. Não haveria de ser tão difícil, pensava ele, considerando que já realizara trabalhos maiores.

No entanto, o que não sabia, e que descobrira mais tarde, depois de muitas tentativas fracassadas, era que o coração da moça havia sido trancado por uma terrível maldição, lançada pelo seu pai, o Rei do Reino Vizinho. Em seus últimos minutos de vida, sabendo que sua filha iria morar naquele reino impiedoso, procurara evitar que ela se casasse com um homem dentre aqueles que o destruíram. Só havia uma chave no mundo que podia quebrar a maldição, e acreditava-se que ela havia se perdido para sempre durante a destruição do Reino Vizinho.

Consternado, o Chaveiro não quis aceitar que nem mesmo as melhores ferramentas ou a mais poderosa magia poderiam abrir a porta para o coração da moça. No dia seguinte, trancou-se numa torre e jurou só sair de lá quando conseguisse criar um antídoto para a maldição. Fabricou milhares de chaves, mas nenhuma delas foi capaz de destrancar a fechadura.

Transtornado pela possessão não consumada, o Chaveiro sucumbiu a ideia de que não havia sentido viver se não pudesse possuir tudo aquilo que queria. Mandou que lhe preparassem um molho de chaves, e nele pôs uma gota do veneno mais temível que já existira. Foi trancafiado pela própria ambição, que o Chaveiro suspirou pela última vez. Ele manteve sua palavra até o seu instante final, e só foi retirado da torre após falecer.

Alguns sentiram a sua morte, é verdade,  mas ninguém sentiu a sua perda. Seus pais choraram a falta que fariam a riqueza e a fama do filho, sem ele, voltariam à miséria, confinados a pobreza como em tempos anteriores. O Rei chorou a morte de seu mais eficiente funcionário, sem ele, algumas portas nunca seriam abertas, alguns sonhos permaneceriam eternamente trancados.


No dia do seu enterro, ele se deitou solitário sobre seu leito de terra. Os tantos que o acompanharam em vida, abandonaram-no na morte, permaneceu sozinho, até que entre as sombras e a névoa da noite, uma moça veio visitá-lo. Aproximou-se do seu túmulo como uma brisa, leve e fria. Depositou ali uma chave e as palavras sussurradas: "Se você ao menos houvesse pedido, eu a teria lhe entregado". 


Escrevi esse texto já faz algum tempo, mas não postei porque... Eu não sei porque, mas acho que foi por causa dessa sensação de desinteresse que as vezes toma conta de mim. Tenho escrito pouco, bem menos do que gostaria, bem menos do que considero saudável. Até porque, se não escrevo, quer dizer que almoço minha angustia, sem fazer digestão. É sério, não escrever, não é saudável. Então hoje eu decidi que ia postar o meu texto e que daqui pra frente ia tentar escrever até mesmo se tiver que ser sobre o meu desdém. Quem sabe o que vai parar nesse blog daqui pra frente? É bem provável que seja absolutamente nada, ou apenas nada de interessante, mas talvez, numa dessas probabilidades bem pequenas mesmo, eu consiga voltar a transportar meus sentimentos com mais nitidez. Eu tenho abandonado as minhas ideias, mas tentarei tornar a defenestrá-las por aqui. Queijos, beijos e até qualquer outro dia. 
P.S.: Agradeço muito mesmo todos os comentários do último post, sempre bom saber que há pessoas para nos apoiar. O TheFunny está agora participando de um concurso, nos desejem sorte, talvez eu comente sobre ele em outro post.

24 de junho de 2013

Sobre um livro chamado TheFunny



Tanto tempo distante deste espaço que nem sei por onde (re)começar. Não quero dar desculpas - apesar de ser muito boa nisso -, ou fazer promessas que sei que não vou cumprir. Não. Vou dizer apenas o que eu estive fazendo durante todo esse tempo: Finalizando o meu livro. \o/ APLAUSOS POR FAVOR

Eu nunca comentei sobre ele por aqui, mas quem me conhece sabe que escrevo o TheFunny há muito tempo. E de certo modo, foi essa distância entre os momentos da minha vida em que eu o escrevi que tornou mais complicada a conclusão do livro. Principalmente porque não estive trabalhando nele durante todos esses anos, pelo contrário, ele ficou mais parado do que esse blog durante umas épocas. Mas enfim, depois de aceitar o meu primeiro filho tal como era - um romance juvenil -, eu prometi à uma amiga - a fã número 1 de todas as versões inacabadas do TheFunny - que eu iria terminá-lo. Ela ficou pasma quando eu cumpri minha promessa - e eu também!

Depois de revisar milhares de vezes, registrar no EAD, e mandar o original para as editoras que publicam o mesmo perfil de livros, eu me encontro na fase mais cruel que um escritor pode enfrentar: a espera. Os prazos para as respostas das editoras vão de 3 meses à 2 anos, sendo que eles se reservam o direito de só te mandar uma resposta se seu livro for aprovado. Isso eu tenho certeza de que já falei aqui, sou ansiosa, e esse é o pior teste de ansiedade que poderia existir. Então, para me distrair, resolvi divulgar ao leitores do Ideias essa história que esteve restrita durante bastante tempo só a mim e a alguns amigos.


Sinopse:  
A Fanny, ou Funny, como muitos a conhecem graças a sua personalidade divertida, é o tipo de garota que qualquer uma gostaria de ser. Dona do Diário Blog mais popular da internet, é no TheFunny que compartilha suas aventuras com seus inúmeros seguidores. Atrevida, corajosa e independente. Quase perfeita, a Funny só tem um problema: Não existir. Invenção de uma mente criativa, ela não passa de uma personagem da tímida e dramática Isabel Alves, uma menina tão comum quanto qualquer outra, exceto pela habilidade inata de dar desculpas esfarrapadas e a capacidade de arranjar problemas.
Isabel está certa de que ninguém jamais descobrirá a verdade sobre a Funny... Até que um comentário misterioso em uma de suas postagens – e um garoto prepotente – viram a sua vida de cabeça para baixo. Com mais humor do que a própria Funny, mais drama que clímax de novela mexicana e mais azar que o gato preto e o espelho quebrado juntos, Isabel vai iniciar a sua jornada de autoconhecimento. Forçada a deixar o seu isolado mundinho, com a ajuda de novos e velhos amigos, ela vai aprender que a história mais importante que pode escrever, é a sua.

Gostou da sinopse? Quer ler o livro? Entre em contato comigo ou faça parte do nosso grupinho - aqui, quero interação; saber o que mais pessoas pensam a respeito da história da Isabel. Por fim, deixo aqui alguns trechos do TheFunny pra vocês se apaixonarem por ele tanto quanto eu.




“- Você passa muito tempo escrevendo, nunca tem tempo pra sair, ou melhor, nunca quer sair. Está sempre trancada no quarto, sozinha. Eu sempre tenho que te arrastar para os lugares. – Ela falou daquele jeito sério, uma ruga de preocupação se formando entre seus olhos. Aquilo não era Tatiane.
 - Tati, – Eu a interrompi. – não precisa fazer o papel da minha mãe, Dona Elise faz isso muito bem sozinha.
Ela continuou me olhando, como se estivesse decidindo se devia, ou não, aceitar o meu pedido.
- Sabe Bel, se você continuar trancada vai perder a oportunidade de escrever a história mais importante que pode escrever. A sua.”


"- Eu não entendo. – Ele falou, e parecia mesmo não entender. – Quem disse que um final feliz é a garantia de uma boa história? Quero dizer, eu não quero um final feliz. Eu não preciso de um final feliz. Eu quero que a minha história valha a pena ser contada. E eu achava que todo mundo pensava assim. Afinal, todo mundo meio que sabe como vai acabar e nem por isso as pessoas deixam de tentar. De tentar escrever uma boa história, não um final feliz. – Eu sabia que estava olhando pra ele muito atentamente. – Eu só acho que o final feliz não é tão importante assim. Ao menos não é pra mim. A vida é muito mais do que um final feliz, Isabel. A vida são os intervalos. E são eles que têm de valer a pena."


"- Mãe, - eu disse em um tom sereno – eu o conheço há alguns dias. Isso seria impossível. As pessoas não se apaixonam por alguém que mal conhecem. Ao menos, não eu.
- Romeu e Julieta se apaixonaram a primeira vista. – Argumentou.
- Romeu e Julieta são personagens e acabaram mortos, caso não se lembre! As pessoas não se apaixonam por alguém que mal conhecem. Elas não se apaixonam. – Repeti como se estivesse tentando convencer a mim mesma. – Eu sou realista, eu não... Eu não acredito nessas bobagens de amor à primeira vista. – Minha mãe passou gentilmente a ao pelo meu cabelo e sorriu.
- Eu sei que você não acredita. Mas pode ser que o seu coração acredite."


P.S.: Se você é um autor nacional - publicado ou não -, e quer ajuda para divulgar sua obra - ou só apoio moral mesmo -, fique à vontade para entrar em contato comigo também. :)

Até.

3 de maio de 2013

Sobre ceticismo


Cética

Ela achava que o segredo para a felicidade estava em achar as respostas para todas as perguntas que a consumiam por dentro, questionamentos que lhe tiravam a paz, o sono, e por diversas vezes, a alegria que não sabia que podia existir na incerteza. Ela não aceitava conviver com a dúvida, não aceitava e nem mesmo enxergava o fato de que algumas perguntas não precisavam de respostas, tão somente de uma inabalável fé. No entanto, a única fé que ainda tinha a débil coragem de admitir possuir era atormentada pela fragilidade. A sua alma estava presa a uma fé solúvel em lágrimas, dissolvia-se e se esvaia com elas.

Mas a verdade, que ela confessava apenas a si mesma, era que ela estava cansada daquilo. Daquele fedor cético que a impregnava. Estava cansada de não conseguir evitar o seu irritante desdém nem mesmo com as coisas que sabia que mereciam seriedade. Estava cansada da descrença que forrava as suas vistas, e mais ainda, estava cansada de fingir acreditar que aquela falta de fé lhe abria os olhos. Sentia, na verdade, que sua desconfiança lhe deixava em uma desesperadora escuridão. Escuridão que a penetrava e a invadia lentamente, se alojando em sua alma sem que percebesse.  Tal qual um parasita disposto a sugar-lhe a ingenuidade, a esperança, e a vida.

Com o tempo, ela foi descobrindo como é difícil caminhar no escuro. Estava percorrendo um caminho sem volta, e possuía a plena certeza de que acabaria se perdendo. Em algum momento, se desviou do rumo certo, e mesmo assim, continuou andando, acreditando que era melhor seguir sempre em frente ao invés de olhar pra trás e tentar descobrir onde havia errado o passo. Estava ansiosa por encontrar o que havia depois do agora, e nessa ânsia, acabou deixando muitas coisas pelo caminho. Inclusive a sua fé. Gostaria que alguém tivesse lhe ensinado a ver a beleza do desconhecido. Talvez assim, não tivesse perdido tudo o que lhe era importante. E só talvez, não tivesse se perdido. 

Eu costumava achar que o ceticismo era uma benção, mas na verdade, é uma maldição.

27 de março de 2013

Sobre as amarras


Lâmina

Ela usou a lâmina
Que guardava debaixo do colchão
Ela cortou as amarras
Que a prendiam ao chão

Voe, meu passarinho
Menina que fugiu do ninho
Mas não esquece de voltar
Um dia, pra me visitar

Ela cortou as amarras
Que a prendiam ao chão
E era tudo um sonho
Menos a lâmina debaixo do colchão



Que demora pra postar né? Os comentários do último post já estão respondidos, e se você fez  o meme ou selo, deixa o link pra eu conferir. Beijo.

9 de março de 2013

Sobre Selos, Memes e Livros

A Yuu me indicou um Meme literário e a Malú também. Eu amei os dois, e como não queria procrastinar mais essa tarefa, decidi juntá-los em um mesmo post.

Primeiro o Meme indicado pela Yuu, cujas regras são:
1. Responder a pergunta: Qual livro você indicaria para uma pessoa começar a ler?
2. Indicar 10 blogs para fazer o Meme. (É expressamente proibido oferecer o laço “a quem quiser pegar” sem indicar seus blogs primeiro).
3. Avisar os blogs que você indicou e colocar a imagem no seu blog para apoiar a campanha.



Eu não sei de onde saiu o meu gosto pela leitura, não sei mesmo, já que meus pais nunca foram de incentivá-lo. O que eu sei é que amo ler desde que me entendo por gente. Comecei pelos livros didáticos que eu utilizava na escola, preferia os de português, porque costumavam ter mais textos. Depois passei para os livros emprestados, um mundo um pouco menos restrito, a depender dos contatos que você tem. E por fim, cheguei ao estágio em que eu tinha os meus próprios livros, não muitos, mas ainda assim, meus.

Portanto, o livro que eu decidi indicar é um dos primeiros que eu comprei, e até hoje, um dos que mais me encanta. É o tipo de história que conquista pessoas de todas as idades. Ao misturar com maestria suspense, mistério, romance, um cemitério de livros esquecidos e uma narrativa quase poética, Carlos Ruiz Zafón me fez virar a noite lendo – e relendo – A Sombra do Vento. O livro conta a história por trás de um outro livro, de mesmo nome, e do menino que o encontra, no já citado Cemitério de Livros Esquecidos.

Do Skoob:

“O livro desperta no jovem e sensível Daniel um enorme fascínio por aquele autor desconhecido e sua obra, que ele descobre ser vasta. Obcecado, Daniel começa então uma busca pelos outros livros de Carax e, para sua surpresa, descobre que alguém vem queimando sistematicamente todos os exemplares de todos os livros que o autor já escreveu. Na verdade, o exemplar que Daniel tem em mãos pode ser o último existente. E ele logo irá entender que, se não descobrir a verdade sobre Julián Carax, ele e aqueles que ama poderão ter um destino terrível.”

Indico para:

O Selo Literário 2013 eu recebi da Malú, cujo objetivo é "incentivar a leitura e criar laços entre os leitores."



As regras são:
1. Citar o nome e o link de quem te enviou:  CHECK

2 . Indicar 2 livros que leu em 2012 e gostou: 
O Poderoso Chefão - Mario Puzo e Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley.

3. Listar 3 livros que gostaria de ler em 2013: 
Moby Dick - Melville
Grandes Esperanças – Charles Dickens
Os Irmãos Karamazov – Dostoiévski

4. Oferecer o selo para 10 outros blogs e avisá-los. 

Enfim, é isso. Contem vocês também suas experiências com a leitura.
Até.

P.S.: Se eu te indiquei e você já recebeu, ou simplesmente não curte Memes e Selos, sem problemas, é só avisar. Mas espero que gostem. =D
P.S.2: Se eu não te indiquei, mas você ama ler e quer levar o selo, ou responder ao Meme, não se acanhe, okay?

20 de fevereiro de 2013

Sobre uma garçonete chamada Vanessa

Eu abracei uma garçonete chamada Vanessa


Rua movimentada, noite fria
Na esquina, uma casa de massas vazia
Eu não conseguia me decidir
Ela apareceu e disse: posso sugerir?

Era uma moça de cidade grande
E sotaque carregado
Dizia: Perfeito! E trazia, sorrindo,
O meu Fettuccine Encantado

Agora morava em cidade pequena
Mas mantinha o cabelo repicado
Dizia: Ótimo! E trazia, sorrindo,
O meu Fettuccine Encantado

Eu quero um pedaço da sua história
E talvez, um pastelzinho com a sua glória
Vanessa, não deu pra resistir
Preciso saber: Como veio parar aqui?

Na mesa, deixei uma gorjeta e um aviso
Moça, não deixe a máquina roubar seu sorriso
Não diga ótimo, quando nada está perfeito
Acolha a vida neste ar rarefeito

O expediente está pra acabar
E Vanessa vai poder descansar
Um brinde, levantem suas taças
Á garçonete! Da casa de massas!

Foi naquela esquina,
Sentado naquela mesa,
Eu abracei
Uma garçonete chamada Vanessa
A história por trás da história: Estive viajando. Lá, eu conheci mesmo uma garçonete chamada Vanessa. Não. Eu não a abracei. Mas minha irmã sim. Quando ela disse "eu abracei uma garçonete chamada Vanessa", soou tão bem que não resisti a escrever sobre isso. rs A parte triste dessa história é que eu não consegui provar o tal Fettuccine Encantado.

27 de janeiro de 2013

Sobre ruir


Você encara o mundo através de seus olhos verdes, mas ele parece ter perdido a cor. E a cada dia que passa, eu vejo que se sente mais sozinha, sem saber em quem confiar. Todos nós já a decepcionamos. Todos nós já ferimos seu coração, ao menos uma vez. E eu sei que não consegue esquecer. Tão jovem e já carrega o mundo nas costas, dissimulando as suas dores em forma de sorrisos. Sou só eu que noto o desespero por trás deles? Talvez seja, mas provavelmente não. Você anda tão triste que me corta o coração. Perdeu a fé, e ainda é tão pequena.


Mas então, quando eu menos espero, você admite pra mim que não gosta das pessoas que estão ao seu redor. E que tem medo delas. Mas que ainda acredita em mim, e que queria ficar só comigo. Eu, tola e imperfeita, sinto aquele aperto no estômago, sentindo a pressão e a responsabilidade que recai sobre mim se suas palavras forem verdadeiras. Tenho tanto medo de te magoar e de te perder, você está tão frágil e seria tão fácil. Algumas palavras desmedidas e eu poderia lhe partir ao meio. Um julgamento, e não restaria mais nada.

Ah, minha pequena, se você soubesse o quanto eu fico apreensiva quando demonstra essa sua confiança em mim. Gostaria de ser um apoio sólido, mas a verdade é que eu também estou desmoronando. E não sou tão forte quanto deveria ser. Ou tão nobre. Admito que, às vezes, eu canso de enxugar as suas lágrimas. E a minha voz enfraquece quando tenho que lhe dizer que vai ficar tudo bem. E por um momento, eu penso em não dizer nada, segurar a sua mão e assistir a sua dor calada. Mas eu não consigo, eu ainda não consigo.

Continuarei te apoiando, enquanto minhas forças me permitirem, e então, um pouco mais. Posso não ser tão forte assim, mas eu tentarei ser no momento em que precisar de mim. Porque nesse momento, é você que não pode cair. Enquanto isso, continuarei ruindo em silêncio. Você me perdoa por guardar esse segredo de você? Eu prometo que no dia em que você voltar a ver cores no mundo e a sorrir de verdade, eu me levantarei. Pra me fortalecer na sua cura. Você pode ter perdido a fé, mas se me permitir, eu divido a porção que me restou, com você.

As semanas estão ficando cada vez mais cheias, por isso tenho estado em falta com o blog. Mas, na medida do possível e do meu próprio tempo, vou achando um jeito de conciliar as minhas duas vidas: a real e a virtual. Obrigada pelos comentários nos posts passados, vou retribuir assim que eu puder. Beijos. P.S.: Eu preciso admitir, o post de hoje é um desabafo.

12 de janeiro de 2013

Sobre minha primeira BC

Não sou de fazer retrospectivas, mas achei essa ideia tão legal que não resisti. Minha primeira Blogagem Coletiva: Blog Retrô 2012.



Qual sua postagem mais querida em 2012? Qual te deu mais prazer em fazer?
Esta, pra mim, é a pergunta mais difícil. Mas irei eleger “Sobre um instante na sua estante”, passei uma tarde inteira, ao invés de prestando atenção nas aulas, escrevendo esta poesia. Foi muito gostoso criar aquela brincadeira com as palavras, e eu, que ainda podia contar meus poemas nos dedos de uma mão, fiquei muito feliz com o resultado.

Qual sua postagem mais popular, a que mais as pessoas gostaram, a mais comentada em 2012? Qual o motivo, você sabe?
Em termos de visualização foi “Sobre coisas que todo mundo gosta, menos eu”, provavelmente porque eu falei de coisas populares, que, por mais incrível que pareça, muita gente também desgosta (menos refrigerante rs). No entanto, se for pra levar em conta os comentários, a postagem mais popular foi “Sobre estruturas” e não sei o motivo. Mas talvez seja um assunto com o qual a maioria das pessoas se identificam, e por isso, não conseguem ficar caladas. É o tipo de opinião que não dá pra jogar pela janela. 

Qual sua postagem menos popular em 2012? Qual seria o motivo?
Sobre criar asas”. Era um momento em que eu ainda estava aprendendo a divulgar o blog. Pode ter sido esse o motivo.

Qual sua postagem mais pessoal, aquela onde tinha realmente um pouco mais de você?
Sobre aquele dia”. E a verdade é que essa postagem é tão pessoal que não consegui encará-la nenhuma vez desde o momento em que postei. Até agora. Aquele dia aconteceu, aquelas palavras foram ditas pra mim, não vejo como algo pode ser mais pessoal do que isto.

Esta é uma BC promovida pelo blog Um pouco de mim.
Se você também quer participar, corre que ainda dá tempo, os links serão aceitos até o dia 16. E se decidir fazer, deixe seu link aqui também pra eu poder conferir ok? Dá um pouco de trabalho, mas é uma retrospectiva que vale muito a pena. Beijos.                                            

8 de janeiro de 2013

Sobre os olhos e os olhares

O Concurso dos Olhos Cansados

Existe um concurso silencioso se espalhando pelos coletivos da cidade. O concurso que exalta a tristeza bela que existe nos olhos cansados. Todos são juízes, todos são julgados. Mas nem todos possuem aquele olhar característico que poderá tornar-lhe um finalista. E talvez, o vencedor de um prêmio ingrato.

Entre dias e noites, eu espreito almas solitárias como um fantasma, acordo ao despertar da manhã e descanso somente a alta noite, na sombra projetada por certos olhares cansados. Sou eu, um caça talentos, em uma busca fútil e infinita, para satisfazer os criadores e os criados desta competição. Sou eu, o prisioneiro de uma liberdade forjada, de uma prisão de grades translúcidas, da vida impregnada nos olhos alheios.

O que eu vejo, quase ninguém vê. Os olhos cansados são apenas o fim da história, mas ao encará-los eu sou o único a ver o começo, eu sou o único a viver o meio. O desanimo pode ser aparente, mas a dor é latente. Tamanha angustia são obrigados a carregar que seus olhos mal conseguem se manter abertos. Tamanha amargura, tamanho peso para seus espíritos se manterem despertos.

Vez por outra, observo uma inveja espessa escoar entre os finalistas diante dos que os aplaudem do lado de fora, inveja de seus olhares repletos de uma sutil animosidade, da luz e da expectativa não encontrada nos olhos daqueles cujo trabalho e o cansaço se transformaram nas cores dos seus olhos. Os finalistas e os eliminados. Infelizmente, serei eu a apontar.

Serão estes, os finalistas dos Olhos Cansados. Aquela mulher de grandes olhos negros que trabalhou o dia inteiro, que chegará em casa e ainda cuidará dos filhos; servirá ao marido. Nenhum tempo pra si mesma. Aquele senhor, idoso e de cabelos brancos que vê aproximar o fim da vida, que sente o esforço ter sido em vão, que gostaria de mais tempo, de mais saúde, de mais serenidade. E menos solidão.

Serão estes, os finalistas dos Olhos Cansados. A criança, miúda e tímida, que não pediu pra nascer, mas que ainda assim foi obrigada a crescer antes do seu tempo. O jovem, faminto e desacreditado, que não consegue ver sentido no mundo e na sua própria existência. Que tem medo do que acontece depois que a vida segue seu curso. Que nunca aprendeu a esperar.

Serão estes, os finalistas dos Olhos Cansados. As mulheres e os homens desta terra. Homens e mulheres que apoiam a cabeça na fé que se esvai, tão lenta e dolorosamente. Que se acomodam e dormem sobre a injustiça velada, fajuto travesseiro de veludo. Que se resignam e seguem viagem, esperando a próxima parada. O ponto em que irão descer. O momento em que irão partir.

Todos nós seremos passageiros dessa vida. Todos nós seremos juízes dos olhos dos outros. E todos nós seremos julgados por olhares ausentes. Mas no fim, seremos todos vencedores. Do Concurso dos Olhos Cansados. Nas mãos, um troféu inválido, que não compensa a nossa história. Que não compete a nossa hora. Nós partiremos então. Os olhos, já selados, guardarão o eco da tristeza, um silenciado grito de desespero. 

Ah, glória amarga! Quem dera sermos todos eliminados.

1 de janeiro de 2013

Sobre a claridade

Luz da manhã


O dia está tão claro, meus olhos ardem e eu quase não posso ver. Quero deixá-los fechados, quero poder abri-los sem dor, quero voltar para a escuridão a qual estava acostumada. Quero a paz morna da noite fria. E a solidão serena que nina o meu espírito. Mas não importa, estou do lado de fora agora. Então eu sigo meu caminho, tropeçando em meus próprios pés.

Pessoas passam por mim e quando me notam, minhas mãos e braços a proteger meus olhos da claridade que cega, me olham torto. Cospem em mim a felicidade que sentem ao ver a luz da manhã. E se por azar esbarram em meu corpo, fogem como se tivessem tocado nas vestes de um homem doente. Ninguém gosta da escuridão que carrego na alma.

Penso que com o tempo, vou me acostumar a claridade. Eu sinto que não demorará muito e meus olhos passarão a aceitar a luz do dia. E é assim que acontece. Durante o tempo em que o sol realiza sua trajetória majestosa no céu, eu me acomodo a sua luz. E acredito ter me adaptado a essa nova existência.

Mas eu nunca me acostumarei. Todas as manhãs a cena se repete. O dia é sempre tão claro, meus olhos ardem e eu quase não posso ver. A luz não me faz bem, o calor não me faz bem, e eu mal consigo me manter de pé sem poder ver o que está a minha frente. Sem saber o que me espera.

E toda vez eu penso que é uma rachadura, mas é a beira do precipício. E toda vez eu tropeço, ao invés de cair eternamente em direção ao infinito. Eu nunca sei o que acontecerá até dar o próximo passo. E não gosto dessa insegurança. Muito menos do medo que ela me traz. Eu só quero voltar para a escuridão a qual estava acostumada. Para enfim, poder abrir os olhos.