28 de novembro de 2011

Sobre uma batalha

A arena está cheia como nunca antes. Os espectadores jamais estiveram tão ansiosos e convictos de que os oponentes jogados no campo de batalha lhes renderiam uma luta inigualável. Por que? Porque a força que os moverá a desferir os golpes será interna. Mais profunda e poderosa do que qualquer outra que exista. Eles não lutarão por dinheiro ou glórias. Lutarão por alguém. Alguém que os assistirá se enfrentarem e que passará a depositar toda a sua confiança no vencedor. É por ela que lutam. Por meio da fé, pela fé.

E lá está ela. Caminhando lentamente ela senta-se em seu lugar. O melhor deles, reservado somente a sua pessoa. O Rei que está sentado ao seu lado lhe estende um sorriso amigável ao qual ela não consegue retribuir satisfatoriamente. Talvez devesse se sentir honrada. Nunca esteve em mais alta posição em sua vida. Mas não. O seu rosto e o seu corpo entregam seus verdadeiros sentimentos. 

Seus olhos lacrimosos, o medo, suas sobrancelhas cerradas, a raiva, o sorriso fraco forçado em seus lábios, a mínima esperança. Seus ombros levados levemente em direção a arena, a curiosidade, o movimento acelerado de ir e vir de seu peito, seu nervosismo, suas mãos fechadas com força uma sobre a outra, seu desespero contido. Tudo isso era perceptível a todos que quisessem ver, porém, quem havia de querer?

Na arena, os adversários não se tocavam, mas já se enfrentavam ferozmente, para delírio da assistência. Soam-se os sinais. A batalha vai começar. O que se vê depois são dois seres enormes correndo um em direção ao outro, enterrando no chão de terra qualquer convívio pacífico que poderia haver entre eles.  Porque tem de ser assim?

Naquela dança violenta, cada um tinha seu jeito de dançar. Os golpes eram dados, as feridas eram abertas, a canção da morte continuava a tocar cada vez mais alta, enquanto um maestro sádico e invisível regia um concerto de sangue.  Xeque mate! Um deles finalmente venceria aquela guerra. A platéia se calou e pela primeira vez só uma voz foi ouvida.

Porque tem de ser assim?
Recai sobre mim a sombra da solidão
Quando numa arena de batalha se enfrentam
A minha razão e o meu coração.