30 de março de 2012

Sobre o peso das coisas

Ela acordou. Assim como em todos os outros dias, ela acordou.  A luz do sol brincava de entrar pela janela do seu quarto, impedindo-a de ignorar o despertar e voltar a dormir. Suspirou e se levantou. Assim que se pós de pé, seu coração foi atingido pela dor. 

E então, era como se tivesse sido transportada para outro planeta, pois tudo no mundo assumia um peso maior. Cada passo era um sufoco. Respirar era trabalhoso. Falar. Pensar. Sentir. Mas nada era tão pesado quanto sorrir. Sorrir exigia tanto que doía. A verdade é que ter de sorrir, lhe dava vontade de chorar.

Rotina escolar. Era outra coisa que passava a pesar mais do que o normal. Ter de encarar pessoas era torturante. Pior eram suas tentativas tolas de tentar entendê-la. Para ela, “como você está?” era praticamente uma pergunta retórica. Por isso ao perguntarem se estava bem, ela dizia “sim”. Se estava triste? Ela dizia “não”. Por que estava com aquela cara? “Por nada”. Afinal, se resolvesse falar, quem iria realmente ouvi-la?

Ela queria o direito de ficar daquele jeito. Sem ter de ouvir desaforos do resto do mundo por causa disso. No entanto, esse seu desejo era o que lhe parecia mais distante. Porque pra ficar daquele jeito, eles diziam, era preciso ter um bom motivo. Mas ela não tinha. Nenhum que fosse compreensível para os de fora.

No fim do dia, quando ela já estava se habituando ao novo peso do mundo – não pela primeira vez – alguém sentou ao seu lado e a fez sorrir um pouco. Ficaram em silêncio por algum tempo. Até que a menina a encarou.

- Qual é o problema?

- Nenhum. – Ela respondeu automaticamente. Como fez durante todo o dia.

- “Eu não quero falar sobre isso agora”. É assim que se responde aos amigos. Isso eu aceito. Mas não me diga que não há problema. Se não quer me contar, tudo bem. Só não tente me fazer acreditar em uma mentira ridícula, entendeu?

Ela deu de ombros. Sim, ela tinha entendido.

- Desculpa.

- Tudo bem.

A menina sorriu pra ela. Ela sorriu de volta. E sentiu a vontade de chorar, só que dessa vez, era por outros motivos. Aquela menina poderia entendê-la. Foi a única coisa que pensou. O peso não foi embora. Ele nunca vai assim tão facilmente. Mas é muito mais fácil carregar o mundo, quando se tem alguém dividindo o fardo com você.

A menina levantou-se para ir embora, mas ela pediu para que esperasse. A menina compreendeu o devia fazer e retornou a fazer a pergunta.

- Qual é o problema?

- É que tem dias em que anoitece, antes mesmo de amanhecer.

Para um certo ser humano mal.

18 comentários:

  1. Oi!
    Gostei muito do texto, porque me identifiquei! Já passei por situações em que preferi ficar quieta e agir como se nada estivesse ruim por saber que não me entenderiam. Confesso que ainda faço isso de vez em quando.
    Ah, também gosto muito dos seus títulos!

    Bgs!

    http://qualquerlink.blogspot.com

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  2. Aqui estamos nós novamente !
    O peso das coisas me pressionam tanto,
    sinto como se tudo estivesse dentro de uma caixa apoiada em minha cabeça que de tão cansada está a ponto de explodir.
    Os meus dias não amanhecem mais. Vivo gritando por aí , sol dá uma brecha ? Rs.
    Gostei desse texto e um viva aos amigos.

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  3. As vezes o peso que carregamos se torna árduo demais, ja passei por situações assim. Beijão, www.spiderwebs.tk

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  4. OI Mallu

    acho que existe um tempo para tudo e nosso estado de espírito não é sempre igual...
    Gostei muito do teu texto, já tinha saudades de passar por aqui!
    Bj e bom fim de semana

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  5. Ah, que texto mais lindo. Realmente é assim que funciona, tudo bem se tornou uma pergunta retórica, responder afirmativamente ela também.
    Esse peso não precisa ter um motivo, andei me sentindo muito assim de uns tempos pra cá. Muita mudança, passei a me sentir muito sozinha e deprimida.
    Mas passa, porque a gente aprende a lidar com as coisas, a entender esse novo peso do mundo (eu estou morando sozinha em uma outra cidade para fazer faculdade, pode apostar que o meu mundo engordou um bocado).
    Adorei o blog, estou seguindo.

    Beijos.

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  6. Acho que estou precisando de um alguém que divida comigo os pesos que carrego. Estou mesmo precisando de alguém que me entenda :/
    "Rotina escolar. Era outra coisa que passava a pesar mais do que o normal. Ter de encarar pessoas era torturante. Pior eram suas tentativas tolas de tentar entendê-la. Para ela, “como você está?” era praticamente uma pergunta retórica. Por isso ao perguntarem se estava bem, ela dizia “sim”. Se estava triste? Ela dizia “não”. Por que estava com aquela cara? “Por nada”. Afinal, se resolvesse falar, quem iria realmente ouvi-la?" - Eu sou/era exatamente assim!

    Beijos ><

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  7. Oi Mallu,

    Tudo bem? "É que tem dias em que anoitece, antes mesmo de amanhecer." revelou tudo o que há. Acho que nesses dias, é se recobrir e tentar ver as saídas.

    Beijos.

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  8. Malu querida, que texto tocante...essa vontade de desvendar os amigos, os proximos é uma virtude de poucos, me identifiquei, apesar da minha época de colegial estar um pouco longe. Um beijão.

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  9. Carregar seu próprio mundo nas costas sozinha é tão difícil!
    Belo texto, é sempre bom encontrar alguém com quem dividir as aflições da vida.

    Bjus, linda.

    http://palavrasdevalquiria.blogspot.com.br/

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  10. Olá, localizei seu blog no Blogosfera e gostei muito, tanto que já o sigo. Convido-lhe visitar e seguir o meu, o que será uma honra.
    http://vendedordeilusao.blogspot.com

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  11. Oi Mallu
    Ótimo texto, quem nunca se sentiu assim, como a menina do texto? Eu me senti assim nesse final de semana, e é difícil quando se tem uma família, filhos pequenos, eles não entendem. Mas o que mais gostei foi a dedicatória "Para um certo ser humano mal". Vou te falar uma coisa, existem vários (kkkkkk).
    Bjão. Fique com Deus.

    http://ashistoriasdeumabipolar.blogspot.com.br/

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  12. Gostei! Assim como ela, odeio as perguntas retóricas do dia-a-dia. E é tão bom quando há alguém que faz essas perguntas não serem retóricas, elas realmente escutam o que você tem para falar. heheh
    Abraços

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  13. Às vezes é difícil lidar com as coisas mesmo. Pensamos que é melhor ficar sozinho, no entanto, nem sempre conseguimos lidar com elas. Essa jeito mais caído, nem sempre possui uma tristeza fixa. Às vezes acordamos assim. Lembrei de uma letra que eu escrevi com um amigo meu:

    Há dias que o dia acorda tarde
    E a vida não parece assim tão bela, na verdade
    O sol se esconde
    E o quarto é onde
    O tempo mora

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  14. O seu blog é muito bom parabéns, olha ja linkei o banner de seu blog no meu pega o meu banner la no meu blog e poe no seu para firmamos a parceria entre blogs eu aguardo contato.

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  15. O blog é : http://umcinefiloemjampa.blogspot.com aguardo respostas!

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  16. Que lindo! Você é um encanto como escritora, gostei muito da frase final. Parabéns :}

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  17. Nossa, que texto! Final incomparável.
    Já me senti assim tantas vezes :X
    Enfim... espero que sua Páscoa tenha sido ótima.
    Fiquei em casa fazendo trabalho da facul --'
    kkkkkkkkkkkkkk²
    Té mais ;*

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  18. Eu já tinha lido, mas só agora comento. Adorei o texto Lud. Porque eu sei o que é se sentir assim, com o peso do mundo nas costas, sem motivos pra sorrir e vários para chorar. Eu sei o que é acordar em um dia escuro. Ainda bem que eu tenho uma pessoa muuuuito "intrometida" que sempre faz a pergunta certa e que quer saber de verdade e não está perguntando só por perguntar... É só isso. P.S: amei a dedicatória e ri muito lendo ela. XOxO

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Beijo da garota que não defenestra ideias.