11 de novembro de 2012

Sobre o barulho


Salão de Festas

Eu posso ouvir o barulho
Que ecoa do salão de festas
Eu posso ouvir as vozes
Que vibram ao deixar escorrer a violência
Eu posso ouvir a canção
Dos que entoam a banalização da morte
Eu posso ouvir o mundo
Que irrompe em comemoração
Esta é a celebração da dor
Que a vida acolhe
Como a infância abandonada
Por um pai injusto e cruel
Eu posso ver o tumulto
Das suas danças coreografadas
Eu posso acompanhar seus passos
Ao som da música tocada
Essa cantoria que se espalha
Poderosa e desafinada
Júbilos dos que perderam a fé
Ah, eu posso vê-los
Convidados impassíveis
E assistir a seus atos vãos
Ah, perdoem-me, mas eu posso vê-los
Irreprimíveis
E chorar a sua próxima ação
Inconsequentes
Lançarão em uma mesa de aposta
Os nossos bens preciosos
E o dono da casa sorrirá satisfeito
Em suas mãos, detém a vitoria
A consciência calejada que acusa
É um sussurro abafado pelo desejo
Eu posso sentir
Escorrer pela minha face
As cruas lágrimas vermelhas
Eu sei, chegará o furioso tempo
Em que o véu da ilusão que paira sobre nossos olhos
Se desintegrará
E o barulho que não cessa
Haverá de fluir
Para a margem do desespero
Eu sei, chegará o calamitoso tempo
Em que encararemos o espelho e veremos
As nuances da nossa verdadeira natureza
Atrás de nós, um rastro de sangue
Que não pode mais ser encoberto
Eu posso prever o amanhecer
Que precede o fim da festa
E então não sobrará mais nada
A não ser a sujeira deixada pra trás
Que se acumula em um canto
De um mundo vazio e esquecido
Na tentativa de substituir nossas perdas
O futuro é um rio de águas claras
Quando o jogo terminar
O vencedor levará consigo os ganhos
E a nós, os meros humanos
Não sobrará mais nada
A esperança, a vida e o amor
Entregamos às mãos erradas
Às consequências
Nós perdemos tudo

9 comentários:

  1. Que poesia forte, Malu!
    Mas é disso que a gente precisa criar coragem pra mostrar com toda força o que sentimos!
    Infelizmente o mundo vive numa "festa" que não faz bem, que não agrada, que não alegra. Mas nem tudo está perdido, acredito numa mudança feita a cada dia, dentro de cada um.
    Abraço!

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    1. Acho que o tema é forte por si só, Deise. Aí é difícil escrever algo mais leve. E não sei se eu tenho uma visão tão otimista a respeito do mundo. Ou de nós mesmos. hahaha
      beijos.

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  2. Muito lindo!
    Tbm saudades de passar aqui Malu!
    Bjs

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  3. Sabe quando você lê algo e acha tão bom, mas tão bom, tão poético, reflexivo e profundo, que você fica sem palavras? Pronto, sou eu agora, nesse exato momento.
    Sei que eu gostei. Gostei muito.

    ;)

    Sacudindo Palavras

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    1. E eu gostei muito de te ver por aqui. Obrigada por suas palavras, Erica, o que você disse foi o suficiente.

      Beijo.

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  4. Uma das coisas que eu mais gosto em ter um blog é ver os escritores incríveis que existem por aí na internet, as vezes muito melhores que profissionais, com livros publicados e tudo o mais. Você tem um talento poderoso para poesias, não abandone isso de jeito nenhum. Admito que não sou fã de rimas, e raramente tenho paciência para ler poemas. Mas seus versos me interessam e me fazem enxergar isso de outra maneira. Não sei se é por que você fala de coisas que me interessam, ou se é porque eu concordo tanto com o que você escreve, mas uma coisa é certa: eu amo seus poemas.

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    1. Acredite, eu também não gostava muito de poemas. Até descobrir que existem coisas que são melhor escritas através deles. Mas é claro que quando a gente se identifica com um texto, independente dele ser uma poesia, é sempre muito melhor.

      Beijos.

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  5. Olá, Mallu.
    Bela poesia; se não nos cuidarmos, acabamos apenas passando pela vida, ao invés de realmente vivê-la.
    Abraço.

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