Detalhes
Abriu os olhos. Imaginou que tudo seria diferente. Foi despertando. Preguiçosamente. Deixou que os braços passeassem em cima de um pedaço ressentido de cama. Um pedaço vazio. Deitada de bruços sobre a saudade, apertou seu travesseiro contra o peito apertado. Encolheu-se ao sentir soprar a ausência presente no tempo. Tudo será diferente.
Encarou um ponto na parede amarelada do quarto. Suspirou, reparando pela primeira vez no modo como a luz tremeluzia ao atravessar a cortina sem cor que cobria a janela. Deixou a mente vagar em detalhes superficiais que nunca havia notado. E que a tranquilizavam. A cortina não tem cor.
Levantou-se lentamente, como normalmente fazia. E fez café. Pra dois. Porque era normal pra ela. Tê-lo ali. Sorriu para a cadeira solitária a sua frente. Percebeu que uma das xícaras não tinha asa. A xícara cujo café, momentaneamente fumegante, esfriaria. Assistiu ao calor se dissipando, e o viu desaparecer. Uma xícara não tem asa.
Se arrumou. Parou em frente ao espelho. Viu uma ponta rachada que a dividia em duas. Permaneceu ali. Ainda que não houvesse ninguém para lhe pedir pra ficar um pouco mais. Pra voltar pra cama e se despir. Ou só pra se despedir. Já haviam se despedido. Fazia algum tempo. Pegou a bolsa. E saiu. O espelho está quebrado.
O dia se alongava tristemente diante dela. Lá fora o clima de sempre. As mesmas pessoas. Os mesmos sorrisos. As mesmas alegrias. As mesmas ansiedades. Os mesmos problemas. Trabalhou o dia inteiro e mal respirou. Não teve tempo de pensar. Ficou agradecida. A vida de sempre. Voltou pra casa.
Fechou os olhos. Se deu conta de que tudo continuava igual. A única coisa que tinha mudado ainda batia de forma dolorosa. Dentro dela. Tentou restabelecer a fé. O amor tinha dessas desilusões. Mas ainda valia a pena. Sim, fazia bem um pouco de fé. Começou a aceitar. Aceitar que era hora de seguir em frente. E perdoar a dor da partida. Até que retorne. Novamente. Por fim, adormeceu.
A cama é maior do que ela se lembra.
Ideias Defenestradas Ressurge (Parte 2): Uma coisa que mudou com a minha volta é o fato de que estou respondendo os comentários digníssimos de vocês. Segundo uma amiga, é mal educado defenestrar minhas respostas quando meus leitores não jogam suas opiniões pela janela. Então, voltem para conferir a resposta, okay? Fora isso, continuarei retribuindo os comentários como costumava fazer. Por hora, é só. Fade out.
Em pequenos detalhes do cotidiano podemos refletir sobre nós, sobre os outros, sobre tudo e assim concluir algo, pelo menos eu sou assim às vezes. Amei o texto <3
ResponderExcluirBeijos
Meu outro lado
Sim, certos detalhes podem fazer mais diferença em nossas vidas do que imaginamos. Mas percebê-los é que é difícil.
ExcluirBeijos, Jeni!
"E perdoar a dor da partida." Muito bom isto. Gostei da estrutura do texto, gosto de contos. Podemos nos expressar de uma forma mais artística e tocante. Parabéns! :)
ResponderExcluirEngraçado que eu nunca tinha escrito um conto em minha vida até iniciar o blog, hoje em dia, é o que mais gosto de escrever. Essas pequenas histórias que conseguem transmitir distintas emoções a quem lê.
ExcluirUm beijo!
Quanta coisa linda aqui no seu cantinho..
ResponderExcluirCheguei e já fui ficando..
Agora vou bisbilhotar mais um pouquinho rsrs
Um beijo carinhoso e uma noite especial viu?
Sheila
Opa, sinta-se em casa. Pode bisbilhotar o quanto quiser. =D
ExcluirQue legal! Adoro esses textos descritivos com um jeito mais intimista, sugerindo alguma história sentimental. Você escreve bem, parabéns!
ResponderExcluirBeijos, Vickawaii
http://finding-neverland.zip.net
Que bom que você gostou, acho que captou bem o clima do texto. Obrigada. *-*
ExcluirOi Mallu
ResponderExcluirMuito bom o texto, não me canso de falar que vc escreve muito bem. Adorei! E achei engraçado o final. A cama ainda é o melhor lugar? kkkkkk.
Obrigada pelo carinho no meu blog.
Bjão. Fique com Deus!
Oi Lu,
ExcluirOlha, quando o elogio é sincero, é sempre bom ouvir. hahaha
E você merece o carinho, querida. =D
Bjos.
Ela parece alguém entediada. :(
ResponderExcluirEstá respondendo? Opa,vou já ver se o meu último comentário foi respondido!
~Emilie Escreve~ • Fanpage • Twitter
Talvez ela pareça, mas não creio que seja assim. O jeito como ela vê o dia ("o mesmo de sempre") é apenas uma afirmação do fato de que nada mudou com a partida da pessoa que ela amava. Nada, além dela mesma. =/
ExcluirBjo.
A gente sente a dor da partida, a dor da ausência, a dor do tédio. Trabalha estas dores, e elas passam... ou será que a gente se acostuma tanto com as dores, que passa a ser normal sentí-las, como quando não sentimos mais o cheiro de algo, por ter ficado exposto muito tempo a ele?
ResponderExcluirBelo texto, tocante e suave. Abraços
Boa analogia.
ExcluirAcho que não nos acostumamos a esse tipo de dor. Podemos até esperar por elas, e encará-las como normal, mas no momento em que surgem novamente, são vividas como todas as anteriores.
Gostei muito de seu comentário. :)
Depois que a gente se acostuma, difa difícil mesmo aceitar a mudança. Ótimo texto.
ResponderExcluirQuando tempo que a gente não se corresponde, hein?
Até mais ;*
Isso mesmo, afinal, que acomodado quer sair do lugar, ainda que seja para seu próprio bem?
ExcluirE sim, faz tempo mesmo que não nos correspondemos. =D
Até.
- Nossa!!! Que texto! Me identifiquei bastante com ele. Muito bom mesmo, parabéns!!
ResponderExcluirBeijos
Triste, mas muito bom texto!
ResponderExcluirNada melhor do que o amanhecer para um sentimento novo! Parabéns pelo blog!!
ResponderExcluirCaramba, me identifiquei demais com esse texto! É difícil deixar um sentimento para trás, por conta das lembranças, que por mais que nos sejamos magoados, permanecem intactas, limpas e felizes. Mas tem uma hora que a gente simplesmente aceita que, um novo ciclo se inicia e porque se prender a dor, se podemos ser felizes novamente?
ResponderExcluirBeijinhos
hiperbolismos.blogspot.com
Sim, ainda mais quando é um acontecimento que te marca. Devemos apenas compreender, em algum momento, que ficar re-sentindo a dor não nos leva a lugar algum. Pelo contrário.
ExcluirBeijo.
Olá, Mallu.
ResponderExcluirBelo conto; o mudo sempre irá mudar à nossa volta, queiramos ou não, e não temos alternativa senão aceitarmos estas mudanças.
Agradeço por teres curtido o FC.
Abraço e bom final de semana pra ti.
Obrigada Jacques, e essa é a mais plena verdade. Mas o bom mesmo, é quando não aceitamos as mudanças por obrigação, as acolhemos.
ExcluirÉli-ponto! Tudo bem?
ResponderExcluirMenina, você escreve muito bem viu! Parabens esse conto está muito bem escrito, a idéia muito bem oensada!
As mudanças da vida estão aí, e as nossas mudanças internas tem que acompanhar o mundo!
Parabens!
Tudo bem sim André. hahaha
ExcluirE com você?
P.s.: Obrigada pelos elogios. XD
Ops, acho que tive uma sensação de deja vu.
ResponderExcluirMallu, normalmente não teria nada a falar; te daria parabéns, falaria que foi um bom texto e que me tocou. Mas, dessa vez encontrei algo que fez meu coração sentir algo diferente: a velha sensação de um machucado que você passa a mãe sem querer. E não, a sensação não é ruim. Dessa vez, pelo menos. Uma sensação de que a vida continuou, apesar dos pesares. Simplesmente: UAU!
ResponderExcluirhttp://gabipuppe.blogspot.com.br