Ela achava que o segredo para a felicidade estava em achar as respostas para todas as perguntas que a consumiam por dentro, questionamentos que lhe tiravam a paz, o sono, e por diversas vezes, a alegria que não sabia que podia existir na incerteza. Ela não aceitava conviver com a dúvida, não aceitava e nem mesmo enxergava o fato de que algumas perguntas não precisavam de respostas, tão somente de uma inabalável fé. No entanto, a única fé que ainda tinha a débil coragem de admitir possuir era atormentada pela fragilidade. A sua alma estava presa a uma fé solúvel em lágrimas, dissolvia-se e se esvaia com elas.
Mas a verdade, que ela confessava apenas a si mesma, era que ela estava cansada daquilo. Daquele fedor cético que a impregnava. Estava cansada de não conseguir evitar o seu irritante desdém nem mesmo com as coisas que sabia que mereciam seriedade. Estava cansada da descrença que forrava as suas vistas, e mais ainda, estava cansada de fingir acreditar que aquela falta de fé lhe abria os olhos. Sentia, na verdade, que sua desconfiança lhe deixava em uma desesperadora escuridão. Escuridão que a penetrava e a invadia lentamente, se alojando em sua alma sem que percebesse. Tal qual um parasita disposto a sugar-lhe a ingenuidade, a esperança, e a vida.
Com o tempo, ela foi descobrindo como é difícil caminhar no escuro. Estava percorrendo um caminho sem volta, e possuía a plena certeza de que acabaria se perdendo. Em algum momento, se desviou do rumo certo, e mesmo assim, continuou andando, acreditando que era melhor seguir sempre em frente ao invés de olhar pra trás e tentar descobrir onde havia errado o passo. Estava ansiosa por encontrar o que havia depois do agora, e nessa ânsia, acabou deixando muitas coisas pelo caminho. Inclusive a sua fé. Gostaria que alguém tivesse lhe ensinado a ver a beleza do desconhecido. Talvez assim, não tivesse perdido tudo o que lhe era importante. E só talvez, não tivesse se perdido.
Eu costumava achar que o ceticismo era uma benção, mas na verdade, é uma maldição.
Eu costumava achar que o ceticismo era uma benção, mas na verdade, é uma maldição.